ExpresAura
Carlos Fuentes
Tradução de Pedro Lopes d’Azevedo
Capa Emília Abreu
Publicações Dom Quixote, Lisboa Abril 2001
Aproximarás os teus lábios da cabeça reclinada junto à tua, acariciarás outra vez o cabelo comprido de Aura; agarrarás violentamente a mulher débil pelos ombros, sem ouvir a sua aguda queixa: arrancar-lhe-á a bata de tafetá, abraçá-la-ás, senti-la-ás nua, pequena e perdida no teu abraço, sem forças, não farás caso da sua resistência gemida, do seu choro impotente, beijarás a pele do rosto sem pensar, sem distinguir; tocarás esses seios flácidos quando a luz penetrar suavemente e te surpreender, te obrigar a afastar a cara, procurar a frincha da parede por onde começa a entrar a luz da Lua, esse buraco aberto pelos ratos, esse olho da parede que deixa filtrar a luz prateada que cai sobre o cabelo brando de Aura, sobre o rosto despedaçado, composto por cascas de cebola, pálido, seco e enrugado como uma ameixa seca; afastarás os teus lábios dos lábios sem carne que estiveste beijando, das gengivas sem dentes que se abrem ante ti; verás à luz da Lua o corpo nu da velha, da senhora Consuelo, frouxo, rasgado, pequeno e antigo, tremendo ligeiramente porque tu o tocas, tu ama-lo, tu também regressaste…
Afundarás a tua cabeça, os teus olhos abertos, no cabelo prateado de Consuelo, a mulher que voltará a abraçar-te quando a Lua Passar, facho tapado pelas nuvens, e os oculte a ambos, e transporte no ar, por algum tempo, a recordação da juventude, a recordação encarnada.
- Voltará Felipe, trazê-la-emos juntos.
Deixa-me recuperar forças e fá-la-ei regressar…
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