O ano de 1984 poderia ser sido o ano do prémio de José Saramago.
Publicara O Ano da Morte de Ricardo Reis.
Suspeito que sou, e colocados de lado: amizades, ódios, invejas, gostos, tendências, conciliábulos, boatos, especulações, política, o Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores, só poderia ser atribuído a José Saramago.
Não Foi!
Parágrafo final da antevisão do prémio, escrita por António Mega Ferreira, e publicada no JL:
Estamos porém no campo das hipóteses; quase certo é que o Grande Prémio da APE 1985 se venha a decidir entre “Amadeo” e “O Ano da Morte de Ricardo Reis” – e para que não haja lugar a más interpretações, diga-se apenas que os títulos das obras e dos autores referidos aqui foram citados sempre por ordem alfabética.
A notícia da atribuição do prémio é retirada do Diário Popular de 13 de Abril de 1973 e está assinada por Orlando Raimundo:
O livro Amadeo, de Mário Cláudio, foi declarado vencedor, por maioria, do Grande Prémio de Romance e Novela de 1984 da Associação Portuguesa de Escritores. A notícia não traduz nenhuma surpresa: há mais de uma semana que era tida como certa a atribuição do galardão à referida obra.
A observação de António Mega Ferreira, para não dar lugar a más interpretações, não era de modo algum inocente e desaguava num mero gesto de esperteza saloia.
O júri era constituído por Maria Lúcia Lepecki, Maria Alzira Seixo, Carlos Reis, Eduardo Prado Coelho e Diogo Pires.
Voltamos ao citado Diário Popular:
“Sou contra o prémio,- assim falou Maria Alzira Seixo.
Eu votei no livro “O Ano da Morte de Ricardo Reis” do José Saramago. Mas se o meu voto é, nitidamente, a favor de Saramago não quero que ele seja entendido como sendo contra a obra de Mário Cláudio, que é uma obra belíssima.
À data do anúncio do prémio ainda não tinha lido Amadeo,
Não tenho qualquer dúvida em reconhecer a qualidade do livro de Mário Cláudio, inspirado na vida e obra do pintor Amadeo de Souza-Cardos, mas está muito longe de ser um romance e, de modo algum, se pode comparar com o livro de Saramago.
Mas tal como Saramago disse:
Na parte que me toca, não escrevo para ganhar prémios nem escrevo porque haja prémios. Assisto de longe às alecrínicas e mangerónicas guerras, mesmo quando me vejo involuntário figurante nelas, e sorrio
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