Beno entrara no Lura e pedira uma garrafa de vinho ao balcão. Depois sentara-se numa das mesas do fundo, perto da estreita escadaria de madeira que dava acesso a um recanto envidraçado do café.
Encheu o copo, apoiou os cotovelos no tampo e meteu a cabeça entre as mãos. Esperava que alguém conhecido entrasse, pouco importava quem, mas era muito cedo. Suspirou, encolhendo-se ligeiramente no banco.
O café só começaria a encher por volta das dez da noite. A essa hora iniciar-se-ia o habitual desfile de rostos maquilhados, de poses inesperadas, de gritos e gargalhadas, de gestos e de cumplicidades que só se cumprem durante a noite. Uma outra cidade se levantava assim que o dia recolhia. Cidade de excessos e de abismos, de sangue e de música, de drogas e de sexo, banalidades e de beleza. E de ternura e paixão.
Al Berto em Lunário, Assírio &Alvim, Dezembro 1999
Legenda: fotografia de Eduardo Grossman.
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