quarta-feira, 30 de maio de 2012

OLHAR AS CAPAS


Esta Estranha Lisboa
Fotografias de Eduardo Gageiro
Arranjo gráfico: Dorindo de Carvalho
Prelo Editora, Lisboa 1972

Dois factos convergem nesta simples reflexão: o encerramento sucessivo de duas fábricas no Norte do País (a de Tecidos do Rio Ave, que lançou na miséria 700 operários, a União Metalúrgica da Fontaínha, que deixou no desemprego outros cem operários, entre homens e mulheres) e o aparecimento do importante ensaio de N. Gaouzner “A Classe Operária Irá Desaparecer?”
Não venho aqui exibir a mágoa profunda, nem mesmo a indignação (que levaria tempo a esmiuçar; por detrás das insolvências estão as estruturas) em mim – e em tantos outros decerto – causadas pelo espectáculo dos milhares de pessoas marginalizadas e acossadas por estes tristes sucessos.
Pergunto-me, sim, aqui no centro do calor húmido deste dia de Lisboa, qual o destino das camadas sociais cada vez mais numerosas que representam a força do trabalho e não têm qualquer controle sobre os meios de produção. Refiro-me não sóa à gente dos armazéns e das fábricas, das oficinas e dos campos, mas aos empregados dos escritórios, dos bancos, das lojas, aos investigadores, aos técnicos, e, já que vem a pelo, porque não aos jornalistas?, em suma a todos os produtores assalariados sem contacto algum com a transformação do seu esforço em rendimento.

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