Disse, ontem, o
inquilino de Belém, que não tem mais esclarecimentos a prestar sobre a(s)
conversa(s) que manteve com Ricardo Salgado.
O
ex-dono-disto-tudo, enviou uma carta à Comissão Parlamentar de Inquérito
parlamentar em que revelava que, em diversas reuniões, avisara
todo-o-mundo-e-o-outro da condição deficitária em que o Banco se encontrava e
que, com Cavaco foram duas, e não uma como antes afirmara, as conversas.
Sempre foi regra na presidência da República e hei-de
mantê-la que tudo o que se vai dizer ao Presidente da República é reservado, afirmou o homem de
Boliqueime-inquilino-de-Belém.
Os portugueses
não querem saber do que Cavaco e Salgado falaram.
Os portugueses,
como se fossem crianças de cinco anos, só queriam que o presidente explicasse
porque lhes disse que podiam confiar no BES, estando o banco já com os gatos-pingados
à porta?
O desconforto do
governo, e da maioria, face ao resultado das eleições de domingo na Grécia.
Pedro Passos
Coelho:
Não estarei do lado de nenhuma conferência que seja
para perdoar a dívida ou reestruturar a dívida à custa dos povos europeus, isso
é claro, muito claro.
respondeu o chefe do Governo português.
Jerónimo de
Sousa:
Mantemos a acusação séria ao Governo de não assegurar
a defesa do interesse nacional. Executou obedientemente todas as imposições da
troika, acatou todo o tipo de condicionamentos. Reagiu às eleições na Grécia,
dizendo tratar-se de um 'conto de crianças' a proposta de renegociação da
dívida. É um exemplo de como quer ficar bem na fotografia para os grandes
interesses económicos.
Manuel Ferreira
Lite, ontem na TVI24:
A ortodoxia fanática financeira está a ser derrotada
em todo o lado.
Dados, de hoje,
do Instituto Nacional de Estatística:
O risco de pobreza continuou a aumentar em Portugal em
2013, afectando já quase dois milhões de portugueses.
Arrumara as telas e metera o resto do material numa
grande caixa em cartão, resolvendo que não lhes tocaria mais; e fora nessa
noite que descobrira que nunca se regressa ao que se abandonou.
Al Berto em Lunário,
Assírio & Alvim, Dezembro 1999
Legenda: não foi
possível obter o autor/origem da fotografia
Quando um dia
lhe perguntaram o que pensava de John Kennedy, Che Guevara respondeu:
É com certeza muito boa pessoa mas é Presidente dos
Estados Unidos.
Sobre a recente aproximação
diplomática entre Cuba e os Estados Unidos, Fidel de Castro disse:
Não confio na
política dos Estados Unidos nem troquei qualquer palavra com eles- Tal não
significa – longe disso – a recusa de uma solução pacífica para os conflitos.
Um projecto que,
segundo leio, chama-se Gin Lovers.
Tem site,
facebook, revista trimestral, bar próprio, loja online,workshops
e já instituíram o Dia Nacional do Gin, que não sei quando calha, porque
dias do gin são os dias todos do ano, assim o fígado deixasse.
O Mário
Henrique-Leiria se andasse por aqui talvez dissesse bem-vindos ao clube,
mas acrescentaria para não apaneleirarem a melhor bebida do mundo, uma coisa
simples de mais para lhe meterem acessórios como frutas exóticas, coentros e
rabanetes.
Gelo, rodela de
limão, casca amarela, aprisionada entre os cubos de gelo, gin e água tónica, de
preferência Schweppes que, lamentavelmente, por aqui não tem quinino,
apenas essência.
Parafraseando um
poema do Vinicius de Moraes: o gin é a arte do encontro.
A Raínha-Mãe,
que morreu com 101 anos, a mulher mais perigosa da Europa, no dizer do
déspota Adolfo Hitler, era uma pura e dura bebedora de gin.
Muito antes de
chegar ao Beefeater, ao Bombay, ao Tanqueray, andei em
iniciações com este Gin da Âncora, também o Bols, o inevitável Gordon’s.
O meu avô, nos
jantares de domingo, uma vez por mês, galinha assada no forno, bebia uma
gotinha de Genebra.
A garrafa durava
uma eternidade e, depois de vazia, servia de botija para as noites de Inverno.
O anúncio foi tirado da edição do Diário de Notícias de 4 de Maio de 1967.
A vida em sociedade torna-se estranha quando nos
aproximamos dos 60 anos; eu falo de livros que os outros não leram e os outros
falam de livros que eu não tenho nenhuma vontade de ler.
Diversas
leituras, em diversos tempos, para além de reconhecer que há páginas bem
interessantes nunca me emprestaram entusiasmo.
Acontece-me o
mesmo com Miguel Torga.
Um homem amargo
.
Numa entrevista
a Mário Ventura, este lembra-lhe que escreveu em Conta-Corrente:«Deus
errou os meus cromossomas de estar em companhia» respondeu que gosta de
estar com os outros, gosta muita da companhia das pessoas, mas é possível
que não lhes faça muito boa companhia.
Não declaradamente
confessado, lamentou que os seus pares não o tivessem proposto para o Prémio
Nobel.
Janeiro de 1978:
O Torga foi pela terceira vez nomeado para o prémio
Nobel. Era bom que o conseguisse. Estamos precisados de divisas.
Fevereiro de
1981:
A mulher diz-lhe
que a Agustina Bessa-Luís foi proposta para o Nobel.
Comentário:
Oxalá traga as divisas para ajudar às despesas
públicas.
Dezembro de 1982:
Dos escritores portugueses, por que raio serei o mais
detestado dos confrades? Dou voltas à mioleira e não topo com uma resposta. Ou
por outra, encontro apenas uma, por qualquer lado que enfie: é eu ser realmente
bom. Tinha piada que fosse verdade.
Legenda:
fotografia tirada de Conversas, Mário Ventura, Publicações Dom Quixote,
Novembro de 1986.
Música, Minha Companheira Desde Os Ouvidos da Infância
José Gomes
Ferreira
Recolha e
Selecção de Raúl Hestnes Ferreira e Romeu pinto da Silva
Campo das
Letras, Porto Outubro de 2003
O João José resolveu, há dias, ir ao Valentim de
Carvalho, comprar as Flores da
Música. E quem havia ele de r lá? O Bissaia Barreto que o João conhece desde
criança. Estava a comprar discos da Amália Rodrigues. Fadinhos. Dar de
beber à dor.
Ficou um pouco atarantado e desculpou-se:
Estou a escolher discos para um doentinho.
O João José supôs logo que seriam para o Salazar, mas
disfarçou:
É para algum doente seu em Coimbra, não?
O Bibi decidiu então pôr as cartas na mesa. E abriu-se
todo:
- Tu bem sabes para quem são. São para “ele”.
Mas não resistiu a acrescentar como vaga desculpa:
- Bem, não são bem para ele. Mas para as enfermeiras.
Para desanuviar o ambiente – coitadas!
Certo dia, o Jesse acordou antes do meio-dia, um
acontecimento que festejei mostrando-lhe oo7 – Agente Secreto (1962). Era o primeiro
filme do James Bond. Tentei explicar-lhe a excitação que aqueles filmes
causaram quando surgiram, em meados dos anos sessenta. Pareciam tão
sofisticados, tão picantes. Expliquei-lhe que os filmes têm um efeito especial
sobre nós quando somos muito jovens: despertam a nossa imaginação de uma forma
que é difícil repetir quando somos mais velhos. Vibramos com o filme como nunca
mais o faremos.
Hoje em dia, quando vou ao cinema, estou sempre a
prestar atenção a tantas coisas, ao marido que fala com a mulher umas filas
mais à frente, a alguém que acaba s pipocas e atira o balde para o corredor.
Estou atento à edição, aos maus diálogos e aos maus actores; às vezes vejo uma
cena com muitos figurantes e dou por mim a pensar: serão actores de verdade,
estarão a gostar de ser figurantes ou tristes por não estar na ribalta? Poer
exemplo, aparece uma rapariga no centro de comunicações no início de 007 –
Agente Secreto. Tem uma ou duas falas, mas nunca mais volta a parecer no ecrã.
Pergunto-me o que terá acontecido a todas aquelas pessoas que aparecem nas cenas
de multidões, nas cenas de festas: o que é que acabaram por fazer na vida?
Terão desistido de representar e escolhido outra profissão qualquer?
Todas estas coisas perturbam a maneira como vejo um
filme, Antigamente, podiam disparar uma pistola ao meu lado que não me teriam
desconcentrado das imagens que se desenrolavam no ecrã à minha frente. Revejo
filmes antigos não apenas para os ver novamente, mas também na esperança de
voltar a sentir o mesmo que da primeira vez.
Amanhã fico
triste,
Amanhã.
Hoje não.
Hoje fico alegre.
E todos os dias,
por mais amargos que sejam,
eu digo:
Amanhã fico triste,
hoje não.
Para hoje e todos os outros dias!
Poema encontrado na parede de um dos dormitórios de crianças, em
Auschwitz
O horror calou tudo, declararam.
Depois de Auschwitz
Continuámos a falar, porém – sem ambição.
Reconhecendo o inalcançável,
Baixando o olhar.
Pois o que pode a fala? Por que dizem
Que, cantada, faz de arma?
Se com ela não nos municiamos.
Se, com a morte de uma Grécia antiga,
Perdemos o condão de nomear
Deuses e sentimentos e até
As pequenas moléculas, enfim, nomear o real
Que, naquele caso, incluía o tremendo e a maravilha?
Esses, os que levavam para a praça
Quezílias, sim, projectos e também,
E, sobretudo, uma noção de polis
E de uma paridade vigiada,
Severamente vigiada.
Os Gregos, esses
Que narravam o medo para que o medo
Se tornasse visível, prisioneiro
Na teia do poema,
Se não compreensível, pelo menos
Transformado em espectáculo – essa Grécia,
Essa Atenas perfeita, mais perfeita
Que qualquer utopia, a rapariga
Inesperadamente transformada
Numa ruína,
Esses – que não existem
E nos deixaram assustados, sós,
Sob o sem-rosto, sós,
Sem as ferramentas adequadas,
Sem pensamento,
Sem esses deuses temperamentais
Que tomavam partido nos combates,
Nós, os abandonados, os que não
Sabem sequer como aplacar
E a quem,
Nós, os emudecidos,
Irmanados com os sem-terra, nós,
Os futuramente esfomeados,
Bárbaros com os pés no alcatrão,
Bebedores de petróleo, como pode
De novo a praça,
A Ágora, juntar-nos?
Transformados em porcos, por feitiço,
Pela malevolência,
Exactamente
Como na Odisseia,
Não sabemos
- e os Gregos esqueceram –
Como é que tal feitiço
Se desfaz?
Hélia Correia,
poema publicado no Público de 21 de Janeiro de 2012.
O exército
soviético entrava no campo de concentração de Auschwitz.
Ali morreram cerca
de 1,5 milhões de pessoas, na sua esmagadora maioria judeus.
Calcula-se que,
durante a Segunda Guerra Mundial, morreram 55 milhões de homens, houve 90
milhões de feridos, dos quais 28 milhões ficaram inválidos para sempre.
Um crime
nefando, uma crueldade sem nome, que jamais desaparecerá da memória dos homens.
Não sei, meus filhos, que mundo será o vosso.
É possível, porque tudo é possível, que ele seja
aquele que eu desejo para vós. Um simples mundo,
onde tudo tenha apenas a dificuldade que advém
de nada haver que não seja simples e natural.
Um mundo em que tudo seja permitido,
conforme o vosso gosto, o vosso anseio, o vosso prazer,
o vosso respeito pelos outros, o respeito dos outros por vós.
E é possível que não seja isto, nem seja sequer isto
o que vos interesse para viver. Tudo é possível,
ainda quando lutemos, como devemos lutar,
por quanto nos pareça a liberdade e a justiça,
ou mais que qualquer delas uma fiel
dedicação à honra de estar vivo.
Um dia sabereis que mais que a humanidade
não tem conta o número dos que pensaram assim,
amaram o seu semelhante no que ele tinha de único,
de insólito, de livre, de diferente,
e foram sacrificados, torturados, espancados,
e entregues hipocritamente â secular justiça,
para que os liquidasse «com suma piedade e sem efusão de sangue.»
Por serem fiéis a um deus, a um pensamento,
a uma pátria, uma esperança, ou muito apenas
à fome irrespondível que lhes roía as entranhas,
foram estripados, esfolados, queimados, gaseados,
e os seus corpos amontoados tão anonimamente quanto haviam vivido,
ou suas cinzas dispersas para que delas não restasse memória.
Às vezes, por serem de uma raça, outras
por serem de urna classe, expiaram todos
os erros que não tinham cometido ou não tinham consciência
de haver cometido. Mas também aconteceu
e acontece que não foram mortos.
Houve sempre infinitas maneiras de prevalecer,
aniquilando mansamente, delicadamente,
por ínvios caminhos quais se diz que são ínvios os de Deus.
Estes fuzilamentos, este heroísmo, este horror,
foi uma coisa, entre mil, acontecida em Espanha
há mais de um século e que por violenta e injusta
ofendeu o coração de um pintor chamado Goya,
que tinha um coração muito grande, cheio de fúria
e de amor. Mas isto nada é, meus filhos.
Apenas um episódio, um episódio breve,
nesta cadela de que sois um elo (ou não sereis)
de ferro e de suor e sangue e algum sémen
a caminho do mundo que vos sonho.
Acreditai que nenhum mundo, que nada nem ninguém
vale mais que uma vida ou a alegria de té-la.
É isto o que mais importa - essa alegria.
Acreditai que a dignidade em que hão-de falar-vos tanto
não é senão essa alegria que vem
de estar-se vivo e sabendo que nenhuma vez alguém
está menos vivo ou sofre ou morre
para que um só de vós resista um pouco mais
à morte que é de todos e virá.
Que tudo isto sabereis serenamente,
sem culpas a ninguém, sem terror, sem ambição,
e sobretudo sem desapego ou indiferença,
ardentemente espero. Tanto sangue,
tanta dor, tanta angústia, um dia
- mesmo que o tédio de um mundo feliz vos persiga -
não hão-de ser em vão. Confesso que
multas vezes, pensando no horror de tantos séculos
de opressão e crueldade, hesito por momentos
e uma amargura me submerge inconsolável.
Serão ou não em vão? Mas, mesmo que o não sejam,
quem ressuscita esses milhões, quem restitui
não só a vida, mas tudo o que lhes foi tirado?
Nenhum Juízo Final, meus filhos, pode dar-lhes
aquele instante que não viveram, aquele objecto
que não fruíram, aquele gesto
de amor, que fariam «amanhã».
E. por isso, o mesmo mundo que criemos
nos cumpre tê-lo com cuidado, como coisa
que não é nossa, que nos é cedida
para a guardarmos respeitosamente
em memória do sangue que nos corre nas veias,
da nossa carne que foi outra, do amor que
outros não amaram porque lho roubaram.
Mas um povo tem,
sempre, o direito à esperança, à dignidade, o espaço e o tempo de um povo viver
tranquilo, depois de décadas de medo e de vergonha.
Claro que os
papagaios do costume já chegaram à boca de cena e bolsaram.
Angela Merkel,
Banco Central Europeu e FMI já fizeram saber que não vai haver margem de
manobra para uma renegociação da dívida grega.
Até o nosso
engravatado-primeiro bolsou estar pouco confiante no caminho agora escolhido
pelos gregos e que o programa do Syriza não existe: é um conto de
crianças.
Houve quem
acreditasse, mas já não engana ninguém, espera-se.
Que dizer de
alguém que, em Novembro do ano passado, afirmava com aquela voz de cantor-de ópera-barato:
Se o BCE tivesse por função resolver o problema
dos países indisciplinados imprimindo mais euros, pura e simplesmente esse
seria um péssimo sinal.
No findar da
semana, o BCE mandou-lhe às trombas o péssimo sinal!
A mezzo-soprano grega Agnes Batsa canta Áspri méra ke ya mas (There will be better days, even for us). Sim, chegarão novos dias para nós.
Alexis Tsipras tomou hoje posse como primeiro-ministro da Grécia. O novo primeiro-ministro prestou juramento perante o chefe de Estado grego,
Karolos Papoulias e é o primeiro líder do Governo grego a prescindir do
juramento religioso junto do arcebispo de Atenas, líder da Igreja grega, feito
tradicionalmente antes de o vencedor se apresentar ao Presidente. Legenda: imagem de A Bola on-line.
Sobre a vitória do Siryza na Grécia, lembrei-me de dois versos da Cantiga da Velha Mãe e dos Seus Dois Filhos do álbum Os Sobreviventes (1971) do Sérgio Godinho:
como um rio de fúria no peito feito tormenta
quando não há nada a perder no que se tenta?
A letra é de Sérgio Godinho, a música de José Mário Branco.
Ai o meu pobre filho, que rico que é
ai o meu rico filho, que pobre que é
Nascidos do mesmo ventre
Um vive de joelhos pró outro passar à frente
E esta velha mãe para aqui já no sol poente
Um dia há muito tempo, vi-os partir
levando cada um do outro o porvir
Seguiram pela estrada fora
Um voltou-se para trás, disse adeus que me vou embora
Voltaremos trazendo connosco a vitória
De que vitória falas, disse eu então
Da que faz um escravo do teu irmão?
Ou duma outra que rebenta
como um rio de fúria no peito feito tormenta
quando não há nada a perder no que se tenta?
Passaram muitos anos sem mais saber
nem por onde passavam, nem se por ter
criado os dois no mesmo chão
eram ainda irmãos, partilhavam ainda o pão
E o silêncio enchia de morte o meu coração
Depois vieram novas que o que vivia
da miséria do outro, se enriquecia
Não foi para isto que andei
dias que foram longos e noites que não contei
a lutar pra ter a justiça como lei
Às vezes rogo pragas de os ver assim
Sinto assim uma faca dentro de mim
Sei que estou velha e doente
Mas para ver o mundo girar de modo diferente
Ainda sei gritar, e arreganhar o dente
Estou quase a ir embora, mas deixo aqui
duas palavras pra um filho que perdi
Não quero dar-te conselhos
Mas se é teu próprio irmão que te faz viver de joelhos
Doa a quem doer, faz o que tens a fazer
Tanto o Sérgio como o Zé Mário interpretam a Cantiga da Velha Mãe e dos seus Dois Filhos. Tentei as duas versões, mas só encontrei a do José Mário Branco que faz parte do álbum Margem de Certa Maneira (1972).
Por quem se apaixonaria ela aqui? Por si mesma? Não
acredites no riso dela. Não se pode acreditar no riso de uma mulher inteligente
que nunca chora: ela ri-se quando tem vontade de chorar.
A exemplo de
outros actos eleitorais na Europa, é preocupante a ascensão dos neo-nazis
gregos, coligados na Aurora Dourada, tendo sido o terceiro partido mais
votado. Legenda: imagem Reuters.
Tinha 19 anos,
ainda não chegara ao esplendor total, quando casou com o minorca Mickey Rooney,
que passou o tempo, enquanto estiveram juntos, com infidelidades.
Seguiu-se o
casamento com o director de orquestra Artie Shaw, que detestava que ela fosse
actriz, as coisas também não correram nada bem e levou-a descambar numa série
de casos que, ainda mais, a tornaram dependente do álcool.
Até que numa noite, depois de dançar com Frank
Sinatra, talvez Dancing in the Dark, este convidou-a para dar uma volta
no seu Cadillac.
No banco de trás
do carro, seguiam algumas garrafas de fosse do que fosse, porque, tanto um como
o outro, em matéria de bebidas, tudo o que viesse à rede era para despejar.
Vulcanicamente
bem bebidos, numa rua de Indio, desataram aos tiros. A polícia apareceu e Frank
telefonou ao amigo Jack Keller: … esta noite eu e aqui a garota,
enfrascámo-nos um bocado, viemos até Palm Springs e pensámos que era capaz de
ser divertido dar uns tiros para os candeeiros e para as montras, mais nada.
Houve que,
generosamente besuntar as mãos dos polícias para que o caso não saltasse para
as primeiras páginas dos jornais.
Sinatra, casado
com Nancy, não hesitou e envolveu-se com Ava, a mulher cujos olhos verdes
sarapintados de amarelo pareciam irradiar uma luz mais brilhante do que o sol.
História de amor
e tentação.
Ela enfeitiçou-me, contava Frank aos amigos.
Mas à medida que o tempo corria e Sinatra não
ajustava o divórcio, Ava começou a andar engalfinhada com todo o bicho careta
que lhe foi aparecendo, principalmente italianos para deixar Frank, ainda mais
em polvorosa.
Artie Shaw de
novo em cena e Sinatra que, o odiava por o maestro se ter recusado a colocá-lo
como cantor na sua orquestra, ameaçou-o de morte.
Em autobiografia
não autorizada, Kitty Kelley mostra à saciedade que Ava Gardner, em turbulência
sem medida, pôs a cabeça de Frank em Jack Daniels.
Ava Gardner: uma
mulher capaz de tudo.
Como diria Hugo
Pratt seria maravilhoso cair nos seus braços sem cair nas suas mãos.
No dia 23 de
Agosto de 1941 fez um teste para a MGM.
O produtor
George Sidney concluiu:
Não sabe representar, mas é um belo pedaço de
mercadoria.
Assim foi.
Quando a
felicitavam por uma qualquer representação, dizia:
Você sabe que eu não represento a ponta de um corno.
Ava, mito e
magia, mas nunca acreditou no seu talento.
Se eu soubesse representar tudo seria diferente… mas
tive o azar de ter esta cara fotogénica, disse a Henry King durante as filmagens de As Neves de Kilimanjaro.
Mas diferente
para quê?
Veja-se o que se
passa em A Condessa Descalça em Pandora, em Mogambo, em
Noites de Iguana e não digam que isso não é cinema.
O cinema,
no dizer de Jean Renoir, é a arte de pôr mulheres bonitas a fazer coisas
bonitas.
No dia 20 de
Outubro de 1953, as relações públicas da MGM anunciavam que, apesar de
todas as esforços de reconciliação, o casamento entre Ava Frank chegara ao fim,
mas o divórcio apenas se concluiu em 1956.
O crítico George
Simon escreveu que Frank Sinatra produziu alguns dos seus mais emocionantes
discos enquanto esteve com Ava Gardner.
Como os antigos
cantores de blues, Frank despejava a sua alma, fazendo as suas baladas
parecerem hinos ao remorso.
Segundo o
orquestrador Nelson Riddle foi Ava Gardner quem conseguiu isso, ensinou-o a
canta as canções de amor infeliz. Foi assim que ele aprendeu.
Ela foi o maior amor da vida dele e tinha-a perdido.
A alguém
perguntaram se tinha animais em casa.
O alguém sorriu e
disse que sim: na parede tinha um post de Ava Gardner, o mais belo animal do
mundo.
Nasceu, na véspera
de Natal do ano de 1922, o pai era trabalhador numa plantação de tabaco em
Grabtown, Smithfield, Carolina do Norte.
Um oportuno
capricho de Mr. Santa Claus, uma bela prenda de Natal oferecida aos homens, os
de boa e os de má vontade.
Morreu, apos uma
longuíssima agonia, aos 67 anos, completamente destroçada pela bebida.
Um mulher dominada pela fatalidade, disse George Cukor.
Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de
fora
pôr-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitro-glicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria
Lisboa, poema dedicado a Mário-Henrique Leiria
Legenda:Grupo Surrealista de Lisboa, Portugal 1949.
Na foto, da esquerda para a direita : Henrique Risques Pereira, Mário Henrique
Leiria, António Maria Lisboa, Pedro Oom, Mário Cesariny, Cruzeiro Seixas,
Carlos Eurico da Costa e Fernando Alves dos Santos. I Exposição dos
Surrealistas, Junho/Julho, 1949.
Não estivesse com uma tremenda carraspana gripal e hoje seria o dia de
contar a minha história sobre este filme e como, ao fim de 50 anos, o voltei a
ver, sem que nunca me tenha saído da cabeça.
A história merece uma boa disposição para ser contada.