sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

PEQUENAS FORMAS DE RECUSA E COMPROMISSO


O que me parece necessário é procurar as razões profundas que levaram a sociedade portuguesa, sobretudo as suas elites, a submeterem-se inteiramente a um regime que afinal mostrou serem muito mais frágeis os alicerces em que assentava o seu poder.
Eu sei que, nestas épocas da história, nomeadamente quando não se vive em situação de miséria e opressão extremas, não se pode contar com epopeias. Mas julgo que não se pedia muito: não se pedia para enfrentar os tanques russos como na Hungria de 56 ou na Checoslováquia de 68. Pediam-se coisas acessíveis, pequenas formas de recusa e compromisso tão simples como a assinatura de uma revista ou a compra de um livro. Parece que as pessoas preferiram jogar na bolsa, indiferentes a coisas tão importantes como o facto de deixarem, durante doze anos, os seus filhos mergulhados numa guerra absurda, entre o absurdo de matar e o absurdo de morrer.

António Alçada Baptista em Pesca à Linha

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