O que me parece necessário é procurar as razões
profundas que levaram a sociedade portuguesa, sobretudo as suas elites, a
submeterem-se inteiramente a um regime que afinal mostrou serem muito mais frágeis
os alicerces em que assentava o seu poder.
Eu sei que, nestas épocas da história, nomeadamente quando
não se vive em situação de miséria e opressão extremas, não se pode contar com
epopeias. Mas julgo que não se pedia muito: não se pedia para enfrentar os
tanques russos como na Hungria de 56 ou na Checoslováquia de 68. Pediam-se
coisas acessíveis, pequenas formas de recusa e compromisso tão simples como a
assinatura de uma revista ou a compra de um livro. Parece que as pessoas
preferiram jogar na bolsa, indiferentes a coisas tão importantes como o facto
de deixarem, durante doze anos, os seus filhos mergulhados numa guerra absurda,
entre o absurdo de matar e o absurdo de morrer.
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