quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

CRIMINOSO ATENTADO CONTRA A PÁTRIA


O 25 de Abril de 1974 poderia ter acontecido 12 anos antes.

Mas um certo amadorismo, um romantismo-quixotesco, frustrou mais uma tentativa para derrubar Salazar, a última antes do 25 de Abril.

O assalto ao Quartel de Infantaria 13, em Beja, na madrugada do dia 1 de Janeiro de 1962, foi um dos prólogos das diversas tentativas para derrubar Salazar.

A revolta juntava uma brigada mista de militares e civis. Os militares eram comandados pelo Capitão Varela Gomes, enquanto Manuel Serra liderava os elementos civis, cerca de oitenta, entre os quais se encontravam Edmundo Pedro, Urbano Tavares Rodrigues, Fernando Piteira Santos, Joaquim Barradas de Carvalho.

O Notícias de Portugal, boletim semanal de propaganda do regime, editado pelo SNI, chamou-lhe um “criminoso atentado contra a Pátria” e, em patética prosa, desenvolvia:

A noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de 1962 ficou assinalada, em Portugal, pelo acto repulsivo de alguns indivíduos desvairados que tentaram assaltar oi quartel de Infantaria nº 3, em Beja. Aproveitando-se da circunstância da passagem do ano, que as famílias comemoravam, discretamente, no recolhimento de suas casas, dada a tristeza em que os acontecimentos da Índia mergulharam o espírito dos portugueses, esses indivíduos quiseram, ardilosamente, a coberto da negrura da noite, preparar um foco de agitação propício aos seus negros desígnios. Foi manifesta a intenção de especular com o actual momento que o País atravessa, o que, por si só, define a falta de patriotismo e de exemplos cívicos daqueles que, por todos os meios, querem alterar a ordem e subverter a paz em que o País vive, mau grado os ventos nefastos que do exterior procuram virar-se contra nós.

Tudo correu mal, a começar na deficiente ligação entre civis e militares, pois nem sequer tinham um qualquer meio de comunicação.


Maria Eugénia Varela Gomes, no seu livro Contra Ventos e Marés, lembra:

Bem, começou por correr mal pelo seguinte: havia horas marcadas para o encontro e o Manuel Serra e os rapazes não estavam. Então os militares, o João e os outros, andaram às voltas por Beja. Quando depois se encontram, já muito tarde, houve uns que, como quaisquer garotos, acharam por bem saltar por cima do muro do quartel, em vez de entrar pela porta. Finalmente, houve a surpresa de o comandante se encontrar na unidade, contra todas as expectativas.
Evidentemente, a mim ninguém me tira da cabeça que as três idas a Beja que eles fizeram antes do golpe lançaram o alarme. Não era possível manter o segredo com perto de cem homens que não estavam habituados a nenhuma disciplina. Alguma coisa tinha que transpirar… Também é verdade que havia muitos boatos e eram tantas as intentonas que eles não sabiam exactamente… Mas, neste caso concreto, sabiam alguma coisa… E não foi por acaso que o comandante lá estava. Eu, para mim, o comandante sabia e até sabia quem vinha lá, até sabia quem vinha lá…

Um certo amadorismo, um romantismo-quixotesco, frustrou o que poderia ter sido o primeiro dia do resto de muitas vidas., pois uma boa parte daqueles homens, que participaram no assalto ao quartel de Beja, acabou por não assistir à madrugada libertadora.

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