O 25 de Abril de 1974 poderia ter acontecido 12 anos antes.
Mas um certo amadorismo, um romantismo-quixotesco, frustrou mais uma
tentativa para derrubar Salazar, a última antes do 25 de Abril.
O assalto ao Quartel de Infantaria 13, em Beja, na madrugada do dia 1
de Janeiro de 1962, foi um dos prólogos das diversas tentativas para derrubar
Salazar.
A revolta juntava uma brigada mista de militares e civis. Os militares
eram comandados pelo Capitão Varela Gomes, enquanto Manuel Serra liderava os
elementos civis, cerca de oitenta, entre os quais se encontravam Edmundo Pedro,
Urbano Tavares Rodrigues, Fernando Piteira Santos, Joaquim Barradas de
Carvalho.
O Notícias de Portugal, boletim semanal de propaganda do
regime, editado pelo SNI, chamou-lhe um “criminoso atentado contra a
Pátria” e, em patética prosa, desenvolvia:
A noite de 31 de Dezembro de 1961 para 1 de Janeiro de
1962 ficou assinalada, em Portugal, pelo acto repulsivo de alguns indivíduos
desvairados que tentaram assaltar oi quartel de Infantaria nº 3, em Beja.
Aproveitando-se da circunstância da passagem do ano, que as famílias
comemoravam, discretamente, no recolhimento de suas casas, dada a tristeza em
que os acontecimentos da Índia mergulharam o espírito dos portugueses, esses
indivíduos quiseram, ardilosamente, a coberto da negrura da noite, preparar um
foco de agitação propício aos seus negros desígnios. Foi manifesta a intenção
de especular com o actual momento que o País atravessa, o que, por si só,
define a falta de patriotismo e de exemplos cívicos daqueles que, por todos os
meios, querem alterar a ordem e subverter a paz em que o País vive, mau grado
os ventos nefastos que do exterior procuram virar-se contra nós.
Tudo correu mal, a começar na deficiente ligação entre civis e
militares, pois nem sequer tinham um qualquer meio de comunicação.
Maria Eugénia Varela Gomes, no seu livro Contra Ventos e Marés, lembra:
Bem, começou por correr mal pelo seguinte: havia horas
marcadas para o encontro e o Manuel Serra e os rapazes não estavam. Então os
militares, o João e os outros, andaram às voltas por Beja. Quando depois se
encontram, já muito tarde, houve uns que, como quaisquer garotos, acharam por
bem saltar por cima do muro do quartel, em vez de entrar pela porta.
Finalmente, houve a surpresa de o comandante se encontrar na unidade, contra
todas as expectativas.
Evidentemente, a mim ninguém me tira da cabeça que as
três idas a Beja que eles fizeram antes do golpe lançaram o alarme. Não era
possível manter o segredo com perto de cem homens que não estavam habituados a
nenhuma disciplina. Alguma coisa tinha que transpirar… Também é verdade que
havia muitos boatos e eram tantas as intentonas que eles não sabiam
exactamente… Mas, neste caso concreto, sabiam alguma coisa… E não foi por acaso
que o comandante lá estava. Eu, para mim, o comandante sabia e até sabia quem
vinha lá, até sabia quem vinha lá…
Um certo amadorismo, um romantismo-quixotesco, frustrou o que poderia
ter sido o primeiro dia do resto de muitas vidas., pois uma boa parte daqueles
homens, que participaram no assalto ao quartel de Beja, acabou por não assistir
à madrugada libertadora.
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