domingo, 1 de maio de 2022

EIGHT HOUR DAY


Há já algum tempo garanti-vos que seria capaz de vos contar toda a História da América apenas com recurso à “Folk Music” e até já vos dei alguns exemplos.

O  1º de Maio é um bom pretexto para vos apresentar mais um episódio dessa História.

Como é sabido, evocar a História do “1º de Maio” é recordar a História da luta do Movimento Operário por um horário de trabalho diário de 8 horas, e é isso que vos proponho fazer agora, com recurso às canções.

À guisa de introdução, e não obstante toda essa História ser, no geral, bem conhecida, farei um curto enquadramento histórico respeitante, apenas, aos Estados Unidos da América, porque é essa a realidade que me proponho abordar.

Mas antes disso atravessarei o Atlântico e irei muito rapidamente a Inglaterra, apenas para evocar o nome de Robert Owen, o “socialista utópico” inglês que logo no início do Séc XIX, nos primórdios da Revolução Industrial, pugnou por um horário de trabalho diário não superior a 8 horas e o pôs mesmo em prática na pequena empresa de que era proprietário, em New Lanark. O slogan de Owen era “Eight hours labour, Eight hours recreation, Eight hours rest”, e se tive a preocupação de o mencionar aqui, logo no início deste texto, é pela curiosidade de se tratar de uma frase muito semelhante a outras que iremos encontrar nas canções que suportaram o movimento operário nessa luta pela redução do horário de trabalho.  

Embora tivessem existido alguns episódios isolados de luta pela redução do horário de trabalho antes disso, nomeadamente em Filadélfia, essa grande preocupação acentuou-se no final da Guerra Civil, quando chegou a ser criada uma união de sindicatos, a “National Labor Union”, para lutar por esse objetivo.

É compreensível… 

Os soldados de ambos os lados da barricada regressavam às suas terras com a necessidade de retomar as suas vidas normais de trabalho. Uma pequena parte da até então mão-de-obra escrava “libertada” no final da Guerra dirigiu-se às grandes cidades do Norte para trabalhar nas suas indústrias. Em simultâneo, a essas cidades afluíam, também, grandes massas de trabalhadores emigrantes provenientes de todas as partes do Globo à procura de emprego, provocando um excesso de oferta que, a não haver qualquer regulação, propiciava tudo menos aumentos de salários e reduções de horários. Quem não aceitasse o que lhe ofereciam era livre de ir à sua vida…

Por essa altura era normal a existência de horários de trabalho entre 14  e 16 horas diárias, durante seis dias por semana. E algumas décadas antes esses horários ainda podiam atingir montantes superiores…

Muita esperança havia sido posta na Tecnologia, e sonhou-se que a evolução tecnológica iria permitir libertar o Homem de uma boa parte da dureza e do peso do seu trabalho, deixando-lhe mais tempo disponível para outras ocupações.

Mas esse Sonho foi Sol de pouca dura…  Lutando, talvez, mas de graça nada se ganharia… 

Por esse motivo, é precisamente nesse contexto de exploração desenfreada de uma mão-de-obra disponível, submissa e desamparada que surgem as primeiras manifestações de um movimento sindical organizado, através da constituição, em 1869, dos “Knights of Labor”, no âmbito da Indústria têxtil de Filadélfia. Esta organização, que na sua origem tinha o pomposo nome de “Noble and Holly Order of the Knights of Labor”, começou por ser uma mera associação de fraternidade operária, ainda antes de se transformar em movimento sindical. Aceitava como membros mulheres, negros, operários de todas as atividades, mas não permitia a inscrição de asiáticos…

Os “Knights of Labor” defendiam ações de boicote, nomeadamente ao consumo, mas assumiam uma posição crítica quanto ao recurso  à greve, solução que quase sempre recusavam.

Na sequência das primeiras manifestações de desagrado por esta situação de quase escravidão encapotada, o Presidente Ulysses S. Grant chegou a promulgar, em Maio de 1869, uma primeira Lei Nacional para imposição do limite de oito horas/dia para os trabalhadores do Governo Federal, sem redução de salário (a “National Eight Hour Law Proclamation”), mas a mesma foi ignorada pelo Patronato e não teve qualquer impacto no que respeita aos restantes trabalhadores.

A grande crise económica de 1873, que atirou três milhões de pessoas para o desemprego e fez com que apenas um em cada cinco trabalhadores pudesse manter um trabalho regular, embora com redução de salário, também não era, naturalmente, propicia a qualquer tipo de reivindicações, pelo que o movimento operário teve de esperar por melhores dias, que só viriam lá mais para o final da década. 

Aproveitando esses sinais claros de retoma da economia, em 1981 foi constituída uma nova Federação de sindicatos, a “Federation of Organized Trades and Labor Unions”, cujo nome seria alterado, no final da década, para “American Federation of Labor”. 

E foi precisamente esta nova Federação quem, em Convenção realizada em 1884, declarou que, como limite a partir do dia 1 de Maio de 1886, deveria ter lugar a tão aguardada redução generalizada de horário para as 8 horas diárias, e que todos os sindicatos seus aderentes deveriam canalizar as suas lutas e as suas ações reivindicativas nesse sentido.

À medida que se aproximava esse tão desejado dia 1 de Maio de 1886, começaram a ser preparadas greves e manifestações nas principais cidades.  E nesse preciso dia meio milhão de trabalhadores terão baixado os braços e largado as suas ferramentas de trabalho, naquela que foi a maior greve a que os Estados Unidos tinham assistido até então.    

A velha “Knights of Labor” não aderiu a esta iniciativa a nível nacional, o que não impediu que alguns dos seus dirigentes decidissem tomar uma opção diferente num âmbito local.

Foi o caso de Chicago, já na altura um grande polo industrial, onde foi o líder local dos “Kinghts” quem organizou uma manifestação ao longo da Michigan Avenue, a qual contou com a presença de 80.000 pessoas, entre trabalhadores e seus familiares, que desfilaram perante agentes da polícia ameaçadores e fortemente armados, gritando o slogan “Eight-hour a day with no cut in pay”.

A situação manteve-se tensa nos dois dias seguintes, mas a 3 de Maio, após um novo “meeting” que juntou 6.000 pessoas, quando alguns manifestantes se dirigiram a uma fábrica na zona Sul da cidade para incentivarem alguns fura-greves a se juntarem a eles, o confronto entre ambos os grupos foi inevitável e a polícia viu aí o pretexto para, literalmente, entrar a matar sobre os manifestantes, deixando quatro mortos e dezenas de feridos no terreno.

No dia seguinte, 4 de Maio, um dia triste e chuvoso, um novo “meeting” foi marcado para o final da tarde em Haymarket Square, no centro de Chicago. Quando se estava já a chegar ao final das diversas intervenções e o último orador se preparava para concluir a sua, um batalhão de 180 polícias aproximou-se do palco improvisado e o respetivo capitão deu ordem de dispersão imediata à multidão, recebendo como resposta do orador, o padre/trabalhador Samuel Fielden, que as pessoas se estavam a manifestar pacificamente e sem qualquer tipo de problema até então. Ignorando essa explicação, a Polícia fez menção de avançar e no meio da confusão que se gerou uma bomba artesanal foi lançada para o espaço entre os manifestantes e a polícia, provocando uma explosão. A polícia avançou em força sobre a multidão e dos tumultos que se seguiram resultaram 15 mortes nos manifestantes e 6 na própria Polícia (um sétimo viria a falecer mais tarde…), para além de umas largas dezenas de feridos de maior ou menor gravidade.

Por pressão do Patronato de Chicago junto do poder político e judicial, oito alegados líderes da greve foram levados a tribunal e julgados. Sete foram condenados à morte e um a 15 anos de prisão, sendo a sentença de dois dos condenados à morte posteriormente comutada em prisão perpétua. Dos cinco condenados à morte, um suicidou-se na prisão e os restantes quatro foram efetivamente enforcados no final do ano seguinte. Por ironia, os acusados que sobreviveram foram, uns anos mais tarde, inocentados e perdoados pelo próprio Governador do Illinois, que considerou ter-se tratado de um julgamento “histérico”, com jurados de idoneidade duvidosa e um juiz tendencioso.  

Mas o mal já estava feito e o “Massacre de Haymarket”, como ficou conhecido, deixou marcas no movimento operário, representando o definitivo declínio dos “Kinghts of Labor” e a ascensão da “American Federation of Labor”, que tinha uma ação sindical mais “soft” e representava, igualmente, os trabalhadores mais qualificados. 

Apesar de pequenas vitórias pontuais e pouco significativas, a maioria dos trabalhadores nos Estados Unidos continuou a trabalhar entre 12 e 14 horas por dia. No início do Séc. XX 70% da população da Indústria trabalhava 10 ou mais horas diárias durante seis dias por semana, e nalguns casos ainda não havia sequer direito a um dia completo de descanso semanal. 

Neste contexto, o movimento operário só viria a ganhar maior força, organização e capacidade de intervenção com a constituição do “Industrial Workers of the World – IWW em 1905, com objetivos políticos claramente mais radicais, como já aqui vos contei anteriormente (vd texto “Little Red Songbook”).

Por deliberação da II Internacional em 1889, o 1º de Maio foi escolhido como dia de luta e de realização de manifestações à escala mundial, o que viria a estar na origem da sua posterior institucionalização como Feriado Nacional e “Dia do Trabalhador” em muitos países.

Quanto ao limite das 8 horas diárias de trabalho, ele só viria a ser imposto a nível nacional em 1938, no âmbito do “New Deal” do Presidente Roosevelt (o “Fair Labor Standards Act”), mais de meio século após as históricas manifestações de 1886. Mas atenção que 8 horas/dia não significavam 40 horas por semana já que, no geral, a distribuição do horário de trabalho continuava a ser feita durante 6 dias por semana…

 Mas já chega de História. Passemos às canções…

A primeira “protest song” que conheço exigindo a imposição de um limite de 8 horas no horário diário de trabalho foi a composta em 1872 por Billy Pastor e chama-se “Eight Hour Strike”. 

Pertence ao período compreendido entre o final da Guerra Civil e o início da Grande Depressão de 1873-78 e terá nascido para acompanhar as primeiras ações de luta organizada pela redução do horário logo no final da Guerra Civil.  Embora só tenha sido publicada em 1872, é provável que já existisse uns anos antes, porque era habitual as músicas só serem publicadas em papel depois de já serem relativamente conhecidas. 

Embora eu tenha na minha coleção um velho vinil da “Folkways” com outra interpretação desta canção, a única versão disponível que encontrei na “net” é esta que vos envio, de qualidade muito duvidosa e sem qualquer identificação de  intérprete.  Mas à falta de melhor…


O principal refrão é

“Striking for the right boys,
Striking for the right,
Eight hours a day and decent pay,
It is for that they fight” 

 A letra completa é a seguinte:

EIGHT HOUR STRIKE (Letra e Música Billy Pastor, 1872)

The topic just now from each person you meet,
The subject you hear all around in the street,
The excitement you see, As you travel about,
The workmen, in number who daily turn out;
All show very plain a sensation's on hand,
And men by their rights are determined to stand,
The wealthy and proud, they may talk as they like,
But they'll have to give in to the Eight hour strike.

(CHORUS:)
striking for the right boys,
Striking for the right,
Then close the ranks of labor up,
And show the world your might,
Striking for the right boys,
Striking for the right,
Eight hours a day and decent pay,
It is for that they fight

For Eight hours a day, their banners unfurl'd,
A guide to the toilers all over the world,
The beacon that shows to the children of toil,
The workman’s no slave on American soil;
There's a manhood in labor no tyrant can crush,
And so for their rights they go in a rush,
And capital ne'er such a victory saw,
As the workmen will win in the eight hour law.

(CHORUS)

One question I'd ask of the haughty and grand,
That's who are the men who develop our land?
Who made the great nation Columbia now?
But the men from the workshop, the anvil and plough,
The railroads that spread thro' the east and the west,
Our Clippers and Steamers, the staunches and best,
And factories finer the world never saw,
Built by those who strike for the Eight hour law.

(CHORUS)

When our nations was trod beneath tyranny's heel,
The strength of our workmen the foemen did feel,
With liberty's fire then each bosom it burned
Our freedom restored to their homes they return;
Should treason our flag ever threaten again,
Or invaders or foemen from over the main,
To rush to battle, the first would be then,
The Eight hour strikers, our brave workingmen.

(CHORUS)

 


Como vos referi na curta resenha histórica, a crise económica veio impor um travão à luta pela redução do horário de trabalho. Se já era difícil, para a grande maioria da população trabalhadora, encontrar um trabalho decente, reivindicar redução de horários era uma pura Utopia, pelo que houve que esperar mais de uma década para se poder voltar à carga.   

 E à carga se voltou mal a crise amainou…

A canção “Eight Hours”, publicada em 1878, mas, provavelmente, escrita uns anos antes, é aquela que irá apoiar as grandes batalhas ocorridas nos anos 80, tornando-se o hino oficial das grandes manifestações de 1 de Maio de 1886, em Chicago e não só. 

Dessa canção envio-vos duas versões, radicalmente opostas em termos musicais: uma versão coral dos “Cincinnati’s University Singers”, mais próxima daquela que suponho ser a interpretação original cantada em grupo, e uma versão mais recente de um grupo americano que se chama “Flame N’Peach & the Liberated Waffles”, que em 2015 lançou um simpático disco de músicas clássicas “de intervenção” sob o título “We Got to Organize”. Nalgumas partes desta versão, sente-se um cheirinho dos Pogues…

O célebre refrão principal é 

“Eight hours for work


Eight hours for rest

Eight hours for what we will” 

A letra completa é a seguinte: 

EIGHT HOURS (Letra I G. Blanchard, Música Rev. Jesse H. Jones, 1878)

We mean to make things over,
We are tired of toil for naught
With but bare enough to live upon
And ne'er an hour for thought.
We want to feel the sunshine
And we want to smell the flowers
We are sure that God has willed it
And we mean to have eight hours;
We're summoning our forces
From the shipyard, shop and mill

Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will;
Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will.

The beasts that graze the hillside,
And the birds that wander free,
In the life that God has meted,
Have a better life than we.
Oh, hands and hearts are weary,
And homes are heavy with dole;
If our life's to be filled with drudg'ry,
What need of a human soul.
Shout, shout the lusty rally,
From shipyard, shop, and mill.

Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will;
Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will.

The voice of God within us
Is calling us to stand
Erect as is becoming
To the work of His right hand.
Should he, to whom the Maker
His glorious image gave,
The meanest of His creatures crouch,
A bread-and-butter slave?
Let the shout ring down the valleys
And echo from every hill.


Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will;
Eight hours for work, eight hours for rest
Eight hours for what we will.

No virar do século, com a constituição dos “Industrial  Workers of the World - IWW”, a luta sindical assumiu proporções mais violentas e radicais, e nesse contexto, como já noutra ocasião vos contei, a canção era uma arma essencial,  possuindo até os IWW  um cancioneiro próprio, o “Little Red Songbook”, que era distribuído por todos os sindicalizados num formato reduzido para que pudesse ser colocado no pequeno bolso dos fatos de trabalho.

A estrutura das canções também mudou. Tornaram-se bastante mais curtas, mas sempre com um forte refrão e, em muitos casos, baseadas em melodias célebres de todos sobejamente conhecidas, o que facilitava em muito a sua aprendizagem.

É provavelmente aí, no seio dos I.W.W. da indústria mineira, que surgiu uma canção que começou por se chamar “Free Americay” e depois se celebrizou com o nome de “Eight- Hour Day”. Foi essa a canção mais cantada pelos “folksingers” de intervenção do século passado e vamos ouvi-la aqui pela voz de “Pete Seeger”, que a incluiu na sua antologia “American Industrial Ballads”.


Mas proponho-vos, também aqui, uma brincadeira.

 Esta canção é baseada num clássico dos tempos da Guerra da Independência, e foi composta em 1774 por Joseph Warren com o nome de “Free América”, sendo igualmente conhecida por “Song of Liberty”. O que vos proponho é que ouçamos ambas, a versão clássica original e depois a de Pete Seeger, para vermos como é que “os Camaradas” passaram de uma versão a outra…!

O refrão principal é

“Eight hours we’d have for working, eight hours we’d have for play

Eight hours we’d have for sleeping, in free Americay”

E a letra desta última é a seguinte: 

FREE AMERICAY / EIGHT-HOUR DAY: Letra de autor desconhecido, música de “The British Grenadiers”

We’re brave and gallant miner boys, who works in underground

For courage and good nature, no finer can be found

We work both late and early, and get but little pay

To support our wives and children in free Americay

 

If satan took the blacklegs *, I’m sure t’would be no sin

What peace and happiness t’would be for us poor workin’ men

Eight hours we’d have for working, eight hours we’d have for play

Eight hours we’d have for sleeping, in free Americay

 

And when this strike is at an end and we have gained the day, 

We’ll drink a health to our miner boys- both near and far away

Eight hours we’d have for working, eight hours we’d have for play,

Eight hours we’d have for sleeping in free Americay

 

Obs: “blacklegs” = polícias/vigilantes armados das empresas

            Pete Seeger não canta a última estrofe, a qual, no entanto, faz parte do seu livro    

            “Carry it On” 

 

E serão estas as principais músicas “clássicas” respeitantes à luta pela redução do horário diário de trabalho. 

Mas a batalha não se ficou por aqui, porque depois começou a luta pela redução do horário semanal.

Não entrarei por aqui, senão isto nunca mais acaba…

Mas não resisto a terminar com uma outra brincadeira 

É que uma coisa é o “horário oficial”, e outra, bem diferente, é o horário real.

Por motivos diversos (cargas de trabalho excessivas, desejo de se ganhar um “Prémio Extra”, receio de se dar “parte fraca”, medo de se ficar “marcado” pelo “Chefe” ou pelo “Patrão”, pânico de se poder perder o emprego, necessidade absoluta de um complemento do salário, etc, etc), a generalidade das pessoas acaba por, na prática, exceder em muito o seu horário normal de trabalho, sem que tal lhes seja sempre devidamente remunerado.

O impacto da globalização, com o encerramento de Indústrias importantes em muitos Estados, mediante a transferência da produção para outros destinos mais atrativos fez renascer o fantasma do desemprego, não dando outra alternativa a muita gente senão aceitar o que lhe ofereciam. 

Se a isto acrescermos o tempo perdido nos transportes por quem trabalha longe do seu emprego, a sensação que paira é a de uma completa degradação da qualidade de vida, em que se entra numa “roda-viva” onde não existe tempo nem para se dedicar à família e aos amigos, nem para as atividades de lazer e culturais.

Duas canções muito mais recentes, de dois “folksingers” de intervenção por cá relativamente desconhecidos, ilustram bem este novo drama dos tempos modernos.

Anne Feeney, que nos deixou há pouco mais de um ano com 69 anos de idade, na sequência de doença cancerígena prolongada agravada pela Covid 19, era uma ativista social e advogada de boas causas, que a determinada altura da sua vida decidiu pôr a toga de lado para se dedicar, em exclusivo, à música e a diversas atividades de cariz humanitário 

Charlie King, felizmente, ainda é vivo e andará pelos seus 75 anos. Nunca se preocupou com o “sucesso” da sua carreira, nunca deu importância ao volume de vendas dos seus discos, sempre esteve disponível para apoiar as “boas causas”, quase sempre gratuitamente. As suas canções são uma delícia de bom gosto, humor e inteligência, que me fazem lembrar o nosso também tão pouco badalado José Barata Moura, com o qual Charlie King tem muitas semelhanças, até no aspeto físico.  

Saboreiem bem as letras e as canções… Mais encolerizada a de Feeney, mais suave e sarcástica a de King, mas ambas fortíssimas na sua mensagem.

As letras são as seguintes:    

WHATEVER HAPPENED TO THE 8 HOUR DAY? (Anne Feeney, 1994)

 
I was a welder – pulling down 40 thou
For all I know that job’s in Pakistan now
And I’m out working for that minimum wage & wondering
Whatever happened to the eight hour day?


Whatever happened to the eight hour day?
Who feeds a family now on one person's pay?
I can't take much more, I just got one thing to say
Whatever happened to the eight hour day?


We got no time for the house, no time for the kids
This eighty hour week has put our lives on the skids
I can't take much more I just got one thing to say
Whatever happened to the eight hour day?


Oh, the companies keep saying that we want too much
Well all the guys on top sure have that Midas touch
The profits are rising – yeah, that’s what they say
It’s cause I work twice as hard to take home half of the pay
The kids need attention, the house is a mess
Our marriage is buckling from all of this stress
There's only one thing gonna take it away
Tell me--what ever happened to that eight hour day?

Remember when one job would pay all the bills?
Remember good jobs that demanded some skills?
If this globalization is great like they say, tell me
Whatever happened to the eight hour day?
Oh, Whatever happened to the eight hour day?

Can't feed a family on one person's paI can't take much more, I just got one thing to say
Whatever happened to the eight hour day?

Whatever happened to the eight hour day?

Whatever happened to the eight hour day?


BRING BACK THE EIGHT HOUR DAY (Charlie King, 1994)

My job makes me crazy; I'm always behind,
Even though I am not one to shirk,
And some fuzzy folksinger repeats in my mind
That my life should be more than my work.
Well, I like the work that I do.
I don't mind earning my pay,
But there's so much to do when the work day is through.
Bring back the eight-hour day.

Say you work at a white-collar job.
You get paid at a fixed monthly rate,
But you come in for meetings a half-hour early;
You're working a full hour late.
Then you sit for an hour in traffic
With the rest of the overtime drones.
There's a latchkey kid you must chase off to bed
'Fore you eat a cold supper alone.

CHORUS: Oh, bring back the eight-hour day.
When did we give it away?
There's so much to do when the work day is through.
Bring back the eight-hour day.

There's a factory worker we know.
Joe Hill called him "Mr. Block."
If the foreman forgot him, he'd work 'til he dropped
And he'd never punch out on the clock.
Now they lay off ten workers a week.
Some are working half-time with no frills.
Mr Block doesn't care; he's got money to spare.
Let the rest of the world go to hell!

Well, did you know that the workers in Flint
Went on strike to climb out of this hole?
Where half the town works sixty hours a week
While the other half rots on the dole?
What good is a double-time check
When your town and your family is shot?
We need some enjoyment; we want full employment.
We will not be bullied or bought


We say: CHORUS

When I was a kid, mom stayed home
And we lived on dad's blue-collar pay.
Our standard of living was decent and sweet,
Just as good as what I've got today.
Now my wife has a good-paying job,
And me, well, I'm doing OK,
But we're putting out ninety-nine hours a week.
Tell me who the hell's getting my pay?


Hey: CHORUS

They've got cellular phones for your car.
They've got notebook PC's for your lap.
If you crawl off to sleep you stay close to your beeper.
Now why do we stand for this crap?
They tell you you've got to compete.
No! we're tired from footing the bill.
Eight hours for work, eight hours for rest,
Eight hours for what we will.

A hundred and ten years ago,
In Chicago in Haymarket Square,
They gathered from shipyards, from mine and from mill,
Just to march in the sun and the air.
They'd been slaving from dawn until dusk
But not on the first of May,
'Cause you can't smell the flowers when you're working twelve hours,
So they struck for an eight-hour day.

Hey, bring back the eight-hour day.
Bring back the five-day week.
When did we give it away?
How did it become an antique?
I like the work that I do.
I don't mind earning my pay,
But there's so much to do when the work day is through
Bring back the eight-hour day.

 

E com estas me vou…

Boas audições, se for esse o caso.

E, claro está, bom 1º de Maio!


Texto de Luís Miguel Mira

2 comentários:

Seve disse...

Excelente e belo trabalho!
Parabéns e obrigado.

Anónimo disse...

Obrigado Seve!
Um abraço,
Luís Mira