terça-feira, 10 de maio de 2022

OLHAR AS CAPAS


Bestiário Lusitano

Alberto Pimenta

Capa: Alberto Pimenta

Edição do Autor, Lisboa, 1980

(Nota do autor no final do livro: «Escrito durante o ano de 1979, segundo o lema de B. Brecht: «Outros que falem da sua vergonha, eu falo da minha.»)

AS PALAVRAS DO PAPAGAIO

aprrendi a dizer o que aprendi a dizer, diz ele

aprendi a dizer que aprendi o que aprendi a

dizer, diz ele, aprendi a dizer que não aprendi

o que não aprendi a dizer, diz ele, comecei a

dizer o que aprendi a dizer, diz ele de dentro

da sua gaiola, aprendi a dizer o que dizem que

se pode dizer, diz ele de dentro da sua gaiola,

mas como dizem que o que se pode dizer apenas

é o que já foi dito, diz ele de dentro da sua

gaiola, só aprendi a dizer o que já foi dito,

diz ele, e como não aprendi também a dizer o

que ainda não foi dito, diz ele, não sei se só

digo aquilo que sei ou se só sei aquilo que

digo, e assim é e tenho dito, diz ele de dentro

da sua gaiola, batendo as asas de mau modo.

1 comentário:

Seve disse...

Este país não merece Alberto Pimenta; se fosse francês e se chamasse Léo Firmenta era o maior, assim, a nossa televisão ignora, desconhece este estranho exemplar. Entretanto, continua a venerar diariamente os Conceições deste país de brandos costumes...e de gente similar com educação e formação.