quarta-feira, 4 de maio de 2022

SIBELIUS COMO ERRO FATAL


Woody Allen costumava dizer que o melhor de cada filme é o momento em que me fecho numa sala a seleccionar clássicos do jazz para o “scores” e ainda existem várias american great songs que gostaria de usar».

A sua enorme colecção de discos permite-lhe colocar nos seus filmes a música de que realmente gosta.

Quem vê os filmes de Woody Allen sabe o quanto são verdadeiras estas palavras.

A páginas 356 da sua Autobiografia Allen volta aos dias exasperantes com Mia:

«Lembro-me de uma ocasião semelhante quando, no início da nossa relação, Mia me arrastou até à sua casa em Martha’s Vineyard num maravilhosos dia de outono. Só e isolado, olhei pela janela para o lago Tashmoo, enquanto ela cometia o erro fatal de colocar o segundo movimento do Concerto para Violino de Sibelius. Enquanto eu escutava, na calma beleza de outono das vinhas, os acordes insuportáveis de Sibelius transportaram-me para a Finlândia, Suécia, Noruega, os fiordes, os vastos bancos de gelo e os longos e escuros invernos, e senti um intenso desejo por uma sandes de fígado de galinha, que só se pode obter nas redondezas de Fifty-Fourth Street.»

Os desconfortos com Mia Farrow desenrolam-se em muitos e variados campos, e já vêm desde o início da relação ao ponto de chegarmos à infelicidade de Mia, de autêntico  bradar aos céus, colocar  Woody Allen às voltas exasperantes com Sibelius. 

Pode-se não gostar mesmo de Mia Farrow, mas a minha esmagadora ignorância musical  não encontra razão mínima para Allen detestar Sibelius, mas só ele o saberá. 

Outra ignorância minha – são tantas e tantas as ignorâncias - é não conseguir sentir  o deslumbre de uma sandes de fígado de galinha.

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