sábado, 7 de maio de 2022

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constituem os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa. 

Jorge Silva Melo escreveu um dia que «Os comboios foram feitos para os sonhos»

Numa velha entrevista ao jornal «O Ferroviário» (1982) José Saramago disse que «o caminho-de-ferro ocupou uma posição relevante nos meus sonhoos de criança. Lembro-me que o qie mais me fascinava era a figura do maquinista. A tremenda responsabilidade de transportar centenas de pessoas numa máquina tão complexa como o comboio, ao longe de centenas de quilómetros por montanhas e planícies. Em vez de me ver na figura do S. Jorge a matar o dragão para libertar a donzela, sentia um fascínio muito grande pela figura do maquinista, portanto um dos heróis da minha meninice, pelo alto nível do sentido da responsabilidade que a sua profissão exige.»

Na página 10 de Viagem a Portugal Saramago, está por Sendim, perguntou onde se pode almoçar, dizem-lhe para seguir rua fora, encontrará um largo e aí encontra o Restaurante Gabriela e pergunte pela senhora Alice.

«O viajante gosta desta familiaridade. A mocinha das mesas diz que a senhora Alice está na cozinha. O viajante espreita à porta, há grandes odores de comida no ar que se respira, um caldeirão de verduras ferve a um lado, e, da outra banda da grande mesa do meio, a senhora Alice pergunta ao viajante o que quer ele comer. O viajante está habituado a que lhe levem a ementa, habituado a escolher com desconfiança, e agora tem de perguntar, e então a senhora Alice propõe a posta de Vitela À Mirandesa.»

Palavras à frente, Saramago escreve que o «viajante é natural de terras baixas, muito lá para o Sul, e sabendo pouco destes montes, esperava-os maiores.» e volta a um dos seus sonhos de menino:

«Esta linha férrea que vai ao lado da estrada parece de brincadeira, ou restos de solene antiguidade. O viajante, cujo sonho de infância foi ser maquinista de caminhos de ferro, desconfia que a locomotiva e as carruagens são desse tempo, objectos de museu a que o vento que vem dos montes não consegue sacudir as teias de aranha. Esta linha é a do Sabor, do nome do rio que se torce e retorce para alcançar o Douro, mas onde esteja o gosto da tranquitana isso não descobre o viajante»

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