quinta-feira, 12 de maio de 2022

OS ITINERÁRIOS DO EDUARDO


O viajante passou por Nelas e lembrou-se do Eduardo Guerra Carneiro , dos itinerários que ficou de ir fazendo por poemas, histórias, palavras, o que quer que seja.

É este o texto no tal livrinho de capa vermelha, em que ele fala de um café na estação de Nelas:

«Um pequeno bar junto à estação de Nelas. Verão de 1964. Uma íntima sensação de liberdade (penso nas abelhas). Uma rapariga tão dourada ao longe. Outra vez a estação libertadora, um respirar mais fundo, sorri, segurei uma das tuas mãos, entrámos pouco depois no bar da estação de Nelas. Sim, isso foi serenidade!»

O viajante ficou na dúvida se falavas de um bar junto à estação de Nelas, ou no bar da estação de Nelas.

Pouco importa agora.

O bar junto à estação não encontrou, o bar na estação já não existe e é agora um vulagaríssimo snack-bar forrado a alumínio e néons, onde não se vislumbr ponta de serenidade.

Deu para tirar uns bonecos na estação, os azulejos da estação vão em postal à parte, onde não se viu qualquer trabalhador ferroviário, nem bilheteira há.

Ao longe a Serra da Estrela plena de serenidade, pensa o viajante.


Ah! e não encontrou – não quis encontrar – a Rua António Lobo Antunes em Nelas.  Porque definitivamente chateou-se com o Lobo Antunes, ele que teve a basófia de dizer numa entrevista: «Ninguém escreve como eu».

Tão ao contrário do seu irmão Miguel:

«Tenho dificuldade em ter conversas, discussões com pessoas vaidosas, que supõem que em tudo o que fazem são muito boas, não são capazes de autocrítica.»

Sem comentários: