O viajante passou por Nelas
e lembrou-se do Eduardo Guerra Carneiro , dos itinerários que ficou de ir fazendo por poemas, histórias, palavras, o que quer que seja.
É este o texto no tal livrinho de capa vermelha, em que ele fala de um café na estação de Nelas:
«Um pequeno bar junto à estação de Nelas. Verão de
1964. Uma íntima sensação de liberdade (penso nas abelhas). Uma rapariga tão
dourada ao longe. Outra vez a estação libertadora, um respirar mais fundo,
sorri, segurei uma das tuas mãos, entrámos pouco depois no bar da estação de
Nelas. Sim, isso foi serenidade!»
O viajante ficou na dúvida
se falavas de um bar junto à estação de Nelas, ou no bar da estação de Nelas.
Pouco importa agora.
O bar junto à estação não encontrou, o bar na estação já não existe e é agora um vulagaríssimo snack-bar forrado a alumínio e néons, onde não se vislumbr ponta de serenidade.
Deu para tirar uns bonecos
na estação, os azulejos da estação vão em postal à parte, onde não se viu
qualquer trabalhador ferroviário, nem bilheteira há.
Ao longe a Serra da Estrela
plena de serenidade, pensa o viajante.
Ah! e não encontrou – não quis encontrar – a Rua António Lobo Antunes em Nelas. Porque definitivamente chateou-se com o Lobo Antunes, ele que teve a basófia de dizer numa entrevista: «Ninguém escreve como eu».
Tão ao contrário do seu
irmão Miguel:
«Tenho dificuldade em ter conversas, discussões com pessoas vaidosas, que supõem que em tudo o que fazem são muito boas, não são capazes de autocrítica.»
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