quarta-feira, 18 de maio de 2022

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constituem os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Não são abundantes as citações musicais na obra de José Saramago.

Paulo Neves da Silva, que lhe fez um volume de citações e pensamentos, não tem nenhuma entrada para Música.

Claro que Saramago, pessoa do seu tempo, homem de cultura, ia ao cinema, ouvia música. Neste caso fala-nos das idas aos concertos dos Coro dos Amadores de Música do amigo e camarada Fernando Lopes Graça.

Tenho a ideia que a primeira referência que li, feita por Saramago a um compositor, terá sido Monteverdi, provavelmente em Manual de Pintura e Caligrafia mas não a consegui encontrar.

 Pode ser que seja num outro livro.

Mas diversas citações encontramos no Memorial do Convento e em As Intermitências da Morte.

Iremos em busca desses sublinhados.

Contudo,  poderemos ir dizendo que a música que José Saramago bem sabe e conhece, é a música das palavras que foi utilizando nos seus livros.

Atentemos no que nos diz no 2º volume de Os Cadernos de Lanzarote, onde, na página 49, podemos ler:

«Regresso a um tema recorrente. Todas as características da minha técnica narrativa actual (eu preferiria dizer: do meu estilo) provêm de um princípio básico segundo o qual todo o dito de destina a ser ouvido. Quero com isso significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas. Ora, o narrador oral não usa  pontuação, fala como se estivesse a compor uma música e usa os mesmo elementos que o músico: sons e pausas, altos e baixos, uns, breves ou longas, outras. Certas tendências, que reconheço e confirmo (estrutura barroca, oratória circular, simetria de elementos), suponho que me vêm de uma certa ideia de um discurso oral tomado como música. Pergunto-me mesmo se não haverá mais do que uma simples coincidência entre o caráter inorganizado e fragmentário do discurso falado de hoje e as expressões “mínimas” de certas músicas contemporâneas.»

Adiantamos que na próxima Festa do Avante, a realizar no primeiro fim-de-semana de Setembro, se assinala a celebração do centenário do nosso único Nobel através de um concerto sinfónico, Música na Palavra de Saramago, no dia 2 de Setembro, em que se ouvirão obras de Scarlatti, Beethoven, J. S. Bach, Elgar, Mozart e António Pinho Vargas.

Em palco estará a Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo, com os solistas Mafalda Nejmeddine (cravo), Marco Pereira (violoncelo), Alexandra Bernardo (soprano) e Armando Possante (barítono).

A obra de Saramago inspirou vários compositores, tanto na música popular como na chamada música erudita. Por exemplo, neste concerto sinfónico, a peça «Memorial», que encerra o programa, foi criada por António Pinho Vargas, cuja composição é dedicada aos romances Ensaio Sobre a CegueiraAs Intermitências da Morte e Ensaio Sobre a Lucidez.

Sem comentários: