Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constituem os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a Biblioteca da Casa.
Não são abundantes as
citações musicais na obra de José Saramago.
Claro que Saramago, pessoa do seu tempo, homem de cultura, ia ao cinema, ouvia música. Neste caso fala-nos das idas aos concertos dos Coro dos Amadores de Música do amigo e camarada Fernando Lopes Graça.
Tenho a ideia que a primeira referência que li, feita por Saramago a um compositor, terá sido Monteverdi, provavelmente em Manual de Pintura e Caligrafia mas não a consegui encontrar.
Pode ser que seja num outro
livro.
Mas diversas citações
encontramos no Memorial do Convento e em As Intermitências da Morte.
Iremos em busca
desses sublinhados.
Contudo, poderemos ir dizendo que a música que José
Saramago bem sabe e conhece, é a música das palavras que foi utilizando nos seus
livros.
Atentemos no que nos diz no 2º volume de Os Cadernos de Lanzarote, onde, na página 49, podemos ler:
«Regresso a um tema
recorrente. Todas as características da minha técnica narrativa actual (eu
preferiria dizer: do meu estilo) provêm de um princípio básico segundo o qual
todo o dito de destina a ser ouvido. Quero com
isso significar que é como narrador oral que me vejo quando escrevo e que as
palavras são por mim escritas tanto para serem lidas como para serem ouvidas.
Ora, o narrador oral não usa pontuação, fala como se estivesse a
compor uma música e usa os mesmo elementos que o músico: sons e pausas, altos e
baixos, uns, breves ou longas, outras. Certas tendências, que reconheço e
confirmo (estrutura barroca, oratória circular, simetria de elementos), suponho
que me vêm de uma certa ideia de um discurso oral tomado como música.
Pergunto-me mesmo se não haverá mais do que uma simples coincidência entre o
caráter inorganizado e fragmentário do discurso falado de hoje e as expressões
“mínimas” de certas músicas contemporâneas.»
Adiantamos que na
próxima Festa do Avante, a realizar no primeiro fim-de-semana de Setembro, se
assinala a celebração do centenário do nosso único Nobel através de um concerto
sinfónico, Música na Palavra de Saramago, no dia 2 de Setembro, em que se
ouvirão obras de Scarlatti, Beethoven, J. S. Bach, Elgar, Mozart e António
Pinho Vargas.
Em palco estará a
Orquestra Sinfonietta de Lisboa, dirigida pelo maestro Vasco Pearce de Azevedo,
com os solistas Mafalda Nejmeddine (cravo), Marco Pereira (violoncelo),
Alexandra Bernardo (soprano) e Armando Possante (barítono).
A obra de Saramago
inspirou vários compositores, tanto na música popular como na chamada música
erudita. Por exemplo, neste concerto sinfónico, a peça «Memorial», que encerra
o programa, foi criada por António Pinho Vargas, cuja composição é dedicada aos
romances Ensaio Sobre a Cegueira, As Intermitências da
Morte e Ensaio Sobre a Lucidez.
Sem comentários:
Enviar um comentário