sexta-feira, 20 de maio de 2022

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


O secretário-geral da ONU, António Guterres, apelou à acção do Conselho de Segurança na questão da segurança alimentar, alertando que a fome aguda afectava, no ano passado, cerca de 140 milhões de pessoas em apenas 10 países, Afeganistão, República Democrática do Congo, Etiópia, Haiti, Nigéria, Paquistão, Sudão do Sul, Sudão, Síria e Iémen, ao mesmo tempo afirmou que cerca de 67% das pessoas subnutridas do mundo vivem em áreas afetadas por conflitos.

A eterna pergunta:

Mas para que serve a ONU?

Quase se pode concluir que toda aquele gente, chorudos ordenados e regalias várias, apenas assiste, sentada em secretárias a guerras e à fome no mundo.

Tempo para lembrar Bertolt Brecht:

O HORROR DE SER POBRE

 Risco c’ um traço

(um traço fino, sem azedume)

todos os que conheço, eu mesmo incluído.

Para todos estes não me verão

nunca mais

olhar com azedume.

 

O horror de ser pobre!

Muitos gabavam-se que aguentariam, mas era ver-lhes

as caras alguns anos depois!

Cheiros de latrina e papéis de parede podres

atiravam abaixo homens de peitaça larga como toiros.

As couves aguadas

destroem planos que fazem forte um povo.

Sem água de banho, solidão e tabaco

Nada há que exigir.

O desprezo do público

arruína o espinhaço.

 

O pobre

nunca está sozinho. Estão todos sempre

a espreitar-lhe para o quarto. Abrem-lhe buracos

no prato da comida. Não sabe pra onde há-de ir.

O céu é o seu tecto, e chove-lhe lá para dentro.

A Terra enxota-o. O vento

não o conhece. A noite faz dele um aleijado. O dia

deixa-o nu. Nada é o dinheiro que se tem. Não salva ninguém.

Mas nada ajuda

Quem dinheiro não tem.

 

Em Poemas e Canções, selecção e versão portuguesa de Paulo Quintela

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