segunda-feira, 9 de maio de 2022

OLHAR AS CAPAS


Lisboa Clichê

Daniel Blaufuks

Capa: Daniel Blaufuks

Edições Tinta-da-China, Lisboa, Setembro de 2021

O declínio dos grandes cinemas de Lisboa terá começado, possivelmente, nos anos a seguir à Revolução de Abril, por um lado, devido a uma crescente insegurança nas ruas nocturnas da Baixa e, por outro, devido ao aumento do número de aparelhos de televisão nas casas portuguesas. Sei que, quando fui a última vez ao Éden ver um filme, porque voltei lá depois para o fotografar de alto a baixo, a convite do Henrique Cayatte, a enorme sala estava vazia e só tinha mais um espectador, que percebi anos depois, era o realizador João Botelho. O filme em cartaz era os Piratas do Polanski, o último trabalho do grande Walter Matthau, e o projector era velho, a tela remendada, mas o mar azul estendia-se imenso até ao infinito, embora estivéssemos na Praça dos Restauradores, como anos antes, numa tarde de férias, também o horizonte e o mar se prolongavam para fora do raio do nosso olhar durante a projecção do Tubarão, que vi, na mesma sala, com o meu irmão. Mas desta vez, éramos só dois, o João e eu, desconhecidos um do outro, cada um na sua cadeira de madeira, nas filas da frente, junto ao, ou mesmo a balançar no, mar. 

1 comentário:

Seve disse...

Um grande prego na cultura. É uma tristeza o panorama (cinemas) actual.