Isto Anda Tudo Ligado
Eduardo Guerra Carneiro
Cadernos Peninsulares nº. 1
Ulmeiro, Lisboa, Janeiro 1970
Onde estás agora? Disseram-me que a tristeza se instalou nas cadeiras da tuacasa, nos teus móveis de estilo, entre os lençóis da tua imensa cama. A tua voz
ainda soa por entre os meus livros, em alguns discos, no fundo de algumas gar-
rafas. Onde estás agora? Disseram-me que o vento já não afasta os teus cabelos.
Em alguns descampados ficou a recordação da tua magnífica água-de-colónia,
do shampoo que em certas tardes de Março íamos comprar ao supermercado
perto do Hotel. Lembro o teu corpo como quem recorda um navio ou um poema de
Camilo Pessanha.
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