quarta-feira, 7 de setembro de 2011

SARAMAGUEANDO


José Saramago no Vol. IV dos “Cadernos de Lanzarote”:

7 de Setembro de 1996

Festa do “Avante”, depois de três anos de ausência. A Quinta da Atalaia, no Seixal, está mais acolhedora, cuidadíssima, com grandes espaços arrelvados e, até, imagine-se o luxo, um pequeno lago artificial, ao lado do rio. Estive cinco horas a assinar livros, sem um momento para descansar, ao ponto de chegar a sentir, embora levemente, a ameaça da epicondilite de que sofri no tempo em que jogava ténis… Fazendo esquecer, porém, a incomodidade do assento e a fadiga da postura, estavam ali aqueles olhares, aquelas palavras, aqueles votos de saúde e de felicidade, aqueles pedidos que eram como carinhosas ordens: “Continue a escrever, precisamos de si,” (os camaradas diziam familiarmente “precisamos de ti”), motivos e razões para que algumas vezes o escritor sentimental, coitado, sentisse que se lhe desmanchava a fisionomia, que a comoção lhe deitava abaixo as defesas, e dentro de si ouvia repetir-se a pergunta que já conhece, essa para que nunca há-de encontrar resposta: “Merecerás realmente isto?

Sem comentários: