segunda-feira, 19 de setembro de 2011

UMA FIGURA PARA A HISTÓRIA


Os primeiros dias de Setembro de 1975, marcaram a destituição, há muito programada, de Vasco Gonçalves do cargo de Primeiro-Ministro.
Cabe aqui uma pequena pausa no folhear dos recortes sobre do PREC, ou se preferirem, do Verão Quente de 75, que tenho vindo a acompanhar, guardados que estvam num volumosos dossier.
A pausa serve para destacar a figura de Vasco Gonçalves.
Vasco Gonçalves pode ser diferentemente apreciado, mas, de modo algum, se poderá ficar indiferente.
Acima de tudo um homem honesto, como dirá, em  “post “ seguinte,  João Abel  Manta,: “um daqueles revolucionários dos tempos antigos.”
Resumir aqueles tempos de esperança, catalogando-os como “gonçalvismo”, é uma maneira depreciativa, demasiado baixa , para ser levada em linha de conta.
O gonçalvismo não existiu.
Artur Portela Filho, em editorial do “Jornal Novo “ de 6 de Setembro de 1975 escreveu:
“Não houve, não chegou a haver, não merecia haver, aquilo que o PS, sempre excessivo, definiu, aos gritos, na rua, como “gonçalvismo.
Houve, rapidamente, um homem – Vasco Gonçalves.
Este jornal não foi, nunca anti-gonçalvista, porque nunca reconheceu a existência do gonçalvismo.
Este jornal não foi, nunca, anti-Vasco Gonçalves, porque um jornal que tem, da função, da grandeza, e da perenidade, do jornalismo, a noção, não faz campanhas contra pessoas.
As pessoas interessam-nos ou porque são muitas, e são o povo, isto é, a História, ou porque são uma só, e, ainda assim são História.”
Eduardo Prado Coelho em artigo publicado na revista “Opção” de 1 de Março de 1974:
“Torna-se imperioso demarcar nitidamente a nossa crítica de esquerda ao tempo de governação de Vasco Gonçalves das várias manifestações de alucinação e pavor que a direita multiplica em relação a ele.
Assinalemos, em primeiro lugar, que nem todo o período em que Vasco Gonçalves actuou como primeiro-ministro corresponde ao  que entendemos por “gonçalvismo”. Se houve erros, e de facto houve, a responsabilidade deles cabe a todas as forças políticas do momento. Se houve demagogia, raras vezes podemos atribuir a uma só personagem ou a um só sector político culpas por tudo isso. (…)
Depois de Vasco Gonçalves, amortecido o mito, seria o que se viu. E nem de Otelo, ou de Melo Antunes se ouve o bastante  falar – também eles figuras impares de uma revolução que não chegou a  haver, dilacerada neste triângulo absurdo que tudo talvez fizesse prever, mas nada faria desejar.
Ficou a democracia. E, espanto dos espantos, entre os socialistas ficaram alguns socialistas que do socialismo esqueceram o que Vasco Gonçalves sempre lembrou: a luta de classes.
E, como diz um “anti-gonçalvista, o sociólogo Alain Touraine, por isso suspeito: “Não pode ser socialista aquele que não reconhece o papel central da luta de classes.”

2 comentários:

filhote disse...

Merecida homenagem!

Jack Kerouac disse...

Assim de repente e que me lembre, foi o único primeiro ministro honesto em Portugal, e realmente interessado em governar em favor do povo, mesmo com alguns erros que possa ter cometido numa época muito complicada...