“Valparaíso é a única cidade chilena desordenada, que não tem uma Praça de Armas como epicentro político, administrativo e religioso, a partir de onde se desenvolveu geométrica e ordenadamente, seguindo o modelo do colonizador”, dizia-me o fotógrafo e proprietário da hiperfocal, no seu invulgar estúdio de “fotografia de autor”, enquanto passava a ferro mais umas fotos impressas em tecido…
Valparaíso é uma estranha cidade, chapadinha no cliché “ou se ama ou se detesta”… Património da UNESCO desde 2003, creio, cresce a partir da baia de tranquilas águas azuis, por uma infinidade de colinas – ou cerros, como são por cá designadas – perpendiculares à costa. Vinte e dois cerros, como li num panfleto turístico; quarenta e dois, como garantia um velho pescador, reciclado em bem-humorado guia turístico na zona do molhe. Pouco importa. Deve depender dos cálculos e da batuta de um qualquer agrimensor.
Valparaíso, sendo a cidade dos cerros, é também a cidade dos ascensores. Sobre estes, não encontrei quem me fizesse a síntese para o cardápio, pelo que tive de os contar no mapa turístico da cidade: treze. Vários estão inactivos e os velhos carris vão desaparecendo envoltos nas ervas e mato, que crescem como se estivéssemos não no coração de uma cidade, mas num campo votado ao abandono. Os restantes sobem e descem ao ritmo da chegada dos passageiros.”
Texto e imagem de Idílio Freire
Legenda: Mural de Salvador Allende em Valaparaíso.
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