1.
Agosto partiu ontem.
Querido para uns, pesadelo para mim, para outros.
Ruy Belo lamentava sempre a sua partida: “agosto são talvez estas palavras todas onde me perco onde procuro pôr os meus passos onde afinal penso que permaneço um pouco mais do que no frágil edifício dos dias.”
O Eugénio d’Andrade escreveu que conhecia Setembro pelo cheiro.
É já antevisão das tardes amenas e macias do Outono, quando a luz é perfeita e mais doirada, tempo de cheiros, a uvas pisadas que, por Novembro, darão vinho novo, o cheiro a marmelos assados, o fumo das castanhas a envolver as ruas de Lisboa.
Como gaivotas, os portugueses regressaram ao trabalho, os que ainda têm trabalho, note-se, os que não encontraram as portas das fábricas fechadas, ou o despedimento por sms
Setembro.
Sentados no banco do quintal da casa de Almoçageme, a apreciar o silêncio, o cheiro que caía das uvas morangueiras e o meu pai a dizer que era o tempo de voltarmos a ser gente.
2.
Quando cinicamente, ao partir com a família para os algarves Passos Coelho desejou aos portugueses a continuação de um bom Verão”, ficaram a bulir por aí maus ventos.
Sabe-se agora, Setembro começado, que esses ventos viraram tempestade.
3.
Mais de 37 mil professores contratados não conseguiram lugar no concurso de colocação de docentes para o próximo ano lectivo. Terão concorrido mais de 50 mil.
4.
O primeiro-ministro português considera que Portugal tem um dos índices mais elevados de assimetria fiscal na distribuição das receitas mas, em entrevista ao El Pais, rejeita a aplicação de um imposto sobre as grandes fortunas.
5.
No Documento de Estratégia Orçamental o governo confirma que a economia irá piorar mais antes de voltar ao ponto em que está hoje. A dieta orçamental (cortes na despesa e mais impostos), por um lado, e a do sistema bancário (menos crédito e mais caro), por outro, vão apertar a economia este ano e no próximo para uma contracção combinada de 4%, a maior em democracia. A evolução do mercado de trabalho irá reflectir este aperto, com o desemprego a subir para 13,2% em 2012 e a ficar nos 13% em 2013. Os salários permanecerão congelados na função pública até 2015, sendo provável igual tendência no sector privado.
Nos dois anos em análise, 54% do esforço na despesa resultará em menos dinheiro no bolso dos portugueses: poupanças com salários no Estado (valem 11% do esforço total contra o défice), com prestações sociais (pensões, subsídios, etc., valem 15%) ou na saúde (11%). Depois ainda há os impostos (ver texto ao lado). Nas subidas do IVA, do IMI e do IRS estarão mais de 22% da consolidação até 2013.
Entretanto, o governo deixou para meados de Outubro, com a apresentação do Orçamento do Estado para 2012, o enunciado das medidas dolorosas de corte na despesa.
6.
Os primeiros dias de Setembro vão ficar marcados por uma grande instabilidade meteorológica, com o continente a poder ser assolado por chuva forte, que pode ser de granizo, acompanhada de trovoada, marcando um Verão atípico em termos de tempo.
É provável que um sol tímido faça a sua aparição na segunda-feira.
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