Setembro do “Verão Quente” de 1975, aproxima-se do fim.
25 de Setembro
Uma manifestação organizada pelos S.U.V. a que se juntaram milhares de trabalhadores concentrados, no Terreiro do Paço, seguiram até ao Parque Eduardo VII. Antes passaram apelas instalações da “Rádio Renascença” e do jornal “República”, onde gritaram palavras de ordem de apoio “à justa luta dos trabalhadores daqueles dois órgãos de co0municação social”.
Da reportagem do “Diário de Notícias”:
“O orador anunciou, então que iria ser tentada hoje à tarde a libertação dos dois militares que se encontram da Casa de Reclusão da Trafaria. Foi nesse momento que a multidão começou a gritar “Para a Trafaria já”.
E dando cumprimento à palavra de ordem dos manifestantes, ali mesmo na Praça do Marquês de Pombal, começou a fazer parar autocarros que seguiam as suas carreiras normais e, ordenando a saída dos passageiros, tomavam os seus lugares dirigindo-se para o presídio, na outra margem do Tejo.
Entretanto outro grupo de manifestantes foi à estação das Amoreiras e trouxe de lá nada manos que 41 autocarros que, superlotados, seguiram a mesma rota. Cerca das duas da madrugada informavam que tinham sido desviados cerca de 70 autocarros. Muitos automóveis particulares encaminhavam-se também para a Trafaria.
Pouco depois das duas horas soube-se que Otelo Saraiva de Carvalho, em contacto telefónico, ordenara a libertação dos dois militares.
Foi o delírio com toda agente gritando: “Vitória, Vitória!”
27 de Setembro de 1975
A Embaixada e o Consulado de Espanha são destruídos por manifestantes.
Da reportagem de “A Capital”:
“Os edifícios do Consulado e da Embaixada de Espanha foram completamente esvaziados e o conteúdo destruído ou incendiado na sequência de uma manifestação convocada, à uma hora da madrugada de hoje, por um comunicado da U.D.P., transmitido aos microfones do Rádio Clube Português. O comunicado apelava para uma concentração frente à embaixada de Espanha com a finalidade de protestar contra as condenações à morte dos militantes da E.T.A e da F.R.A.P., julgados em Burgos e Madrid, por tribunais onde os advogados de defesa não puderam exercer os seus direitos.
Um dos elementos do serviço de segurança da manifestação anunciava pelo megafone:
“Isto não é um acto selvático, camaradas. Temos de sentir esta acção como um acto de solidariedade para com os compatriotas e antifascistas bascos condenados à morte pela ditadura do assassino Franco.”
José Gomes Mota, no seu livro “A Resistência”:
“São assaltadas e saqueadas as dependências da representação diplomática de Espanha em Lisboa, uma criminosa atitude a que casualmente assisti na companhia de Mário de Aguiar, e que considero o expoente máximo do vandalismo “revolucionário”; a cúmplice passividade das forças militares do Copcon perante aquele dantesco espectáculo, dava infelizmente a ideia de que a revolução portuguesa tinha “eleito” como alguns dos seus heróis os aventureiros mais reles da ralé “revolucionária. Por mais anos que viva não será fácil esquecer aquele inacreditável tragédia, a desafiara a mais fértil imaginação dos mais repelentes incendiários.”
Legenda: Títulos do "Diário de Notícias", respectiavmente, de 26 e 27 de Setembro de 1975
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