segunda-feira, 12 de setembro de 2011

GENEALOGIA II


“Ouves os ruídos dos filhos, retido na cama. Uma gripe
não te afasta do mundo, mas mostra-te como és fraco;
eles continuam, alegres ou deixando a adolescência,
ou permanecendo crianças, rindo.
Tinhas pulmões de aço, fumadores, adultos,
e um gosto elegante pelo futuro. Fumas de pijama,
na varanda, enquanto os turistas de domingo vão à praia,
saudáveis e comentando as notícias do dia,
vestidos de branco no meio do Verão.
Borboletas nas roseiras, cadeiras na penumbra,
sentes que a morte avisa uma e outra vez,
soletrando o teu nome, aprendendo as tuas sílabas,
o teu caminho, para depois te encontrar mais depressa.
Ouves os teus filhos, comovido. Terás de deixar-lhes
uma herança para além dos livros,
das observações sobre meteorologia, das receitas
de família, das recordações de aldeia.”

Francisco José Viegas em “Se me Comovesse o Amor”