Durante a crise de 1879 um jornal não quis publicar uma notícia sobre as condições de vida dos operários tabaqueiros.
Custódio Gomes, operário tabaqueiro, indignado com a recusa de publicação da referida notícia terá afirmado: “soubesse eu escrever que não estava com demoras. Já há muito que tínhamos um jornal. Bem ou mal, o que lá se disser é o que é verdade. Amanhã reúne a nossa Associação, e hei-de propor que se publique um periódico, que nos defenda a todos, e mesmo aos companheiros de outras classes”.
A 11 de Outubro de 1879 nasceu o jornal “A Voz do Operário” e a 13 de Fevereiro é criada a Sociedade Cooperativa A Voz do Operário destinada a manter financeiramente o jornal, “órgão dos manipuladores de tabaco desligado de qualquer partido ou grupo político”.
Por solicitação dos associados, em Julho de 1883, a actividade da Sociedade foi alargada à assistência funerária, correspondendo a uma necessidade da classe, que se via confrontada com o exorbitante preço dos funerais. “Um jornal e uma carreta funerária, assim começa A Voz do Operário”, escreveu Fernando Piteira Santos.
Em 1932 a Sociedade tinha cerca de 70 mil sócios e era já o mais importante núcleo de instrução primária da cidade de Lisboa, com escolas a funcionarem também na periferia. Em 1938, as escolas de A Voz do Operário são frequentadas por 4.200 alunos, na grande maioria filhos de operários.
Durante a ditadura de Salazar/Caetano, “A Voz do operário “ foi baluarte, político e cultural, grão de arei na engrenagem que permitiu margens de manobra e combate contra o obscurantismo e, as perseguições políticas, a censura.
Aquelas paredes, também guardam sementes do 25 de Abril.
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