Fecho hoje, o pequeno parêntesis, aqui, aberto sobre Vasco Gonçalves.
São duas citações retiradas do livro “Depois das Revoluções”, da autoria de Mário Murteira, um homem insuspeito de veleidades, de qualquer oportunismo:
“Para quem, como o autor destas linhas, teve a honra de ser colaborador do general Vasco Gonçalves durante o IV e V Governos Provisórios, é bem claro que o “gonçalvismo” como sistema de poder, ou concepção do seu exercício, não existiu. Em rigor, acrescente-se, só pode voltar a falar-se de “poder político em Portugal (verificado o desmantelamento do regime anterior ao golpe do MFA) precisamente depois do 25 de Novembro de 1975. E qualquer pessoa razoavelmente objectiva e informada sabe que o II, III, IV e o V Governos Provisórios, todos tendo Vasco Gonçalves como primeiro-ministro, foram bem distintos entre si, por corresponderem a diferentes fases do processo português desencadeado (inadvertidamente?) pelo 25 de Abril. A análise deste faseamento, e da sua lógica interna e externa, está por fazer, e esperemos que não sejam – uma vez mais – estrangeiros a explicar-nos o que se passou em Portugal nos anos febris de 1974 e 75. Aliás, quem poderá gabar-se de tê-lo já totalmente apreendido, em rigor e profundidade, para além das propagandas? (…)
O chamado gonçalvismo nunca existiu. Existiu, sim, no Portugal recém-libertado, um movimento social anti-capitalista que entre Março e Novembro de 1975 atingiu o clímax. Em 16 de Novembro desse ano, no Terreiro do Paço, entre algumas centenas de milhares de manifestantes, pareceu-me que a revolução era possível. Mas tratava-se de um equívoco.. A revolução é em última análise, uma questão de poder. E o poder não estava nas ruas de Lisboa ou nos campos do Alentejo.”
Legenda: Cartaz da autoria de Armamndo Alves em "12 Poemas Para Vasco Gonçalves" Editorial Inova, Porto, Abril 1977
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