Com Camilo entre mãos, tempo de comemorações do 2º
centenário do nascimento, socorro-me de Reolhares para trazer um texto por aqui publicado em
16 de Janeiro de 2021.
Então
tinha 76 anos.
Livio,
personagem do filme de João César Monteiro, «Quem Espera por Sapatos de
Defunto Morre Descalço, a certo ponto do filme diz:
«O meu pai era um tipo melancólico. Caçava moscas e
lia Camilo. Morreu»
Fui, e sou, um
péssimo leitor de Camilo Castelo Branco.
Os livros
existiam na biblioteca do meu pai, mas enamorei-me pelo Eça.
Já tarde no
tempo, fiz várias incursões por alguns livros de Camilo, mas não ficaram registos.
Tristemente me
espanto, como existindo neste blogue uma etiqueta Olhar as Capas,
em que já passaram 1.466 livros da biblioteca da casa, não haja um livro de
Camilo.
E dezenas deles
estão por aqui.
Pior ainda: nem
sequer existe etiqueta do autor.
Que dizer?
Camilo nasceu em
Lisboa no dia 16 de Março de 1825.
Ficou órfão de
mãe com 2 anos e de pai com 10 anos. Foi morar com uma tia e depois com a sua
irmã mais velha.
O resto é a
tragédia de uma vida.
Casamentos
frustrados, seminário, escândalos vários, em que está incluída, cheia de
salero, uma bailarina espanhola, que para a sustentar, Camilo recorre ao jogo
no casino da Póvoa do Varzim, contraindo inúmeras dívidas de jogo, adultério, o
impressionante rapto e casamento com Ana Plácido, filhos, um deles, louco.
A 3 de
Julho de 1890, depois de ter perdido a esperança de recuperar a vista,
suicida-se, em S. Miguel de Seide, disparando um tiro de revólver na têmpora
direita.
Camilo Castelo
Branco foi um dos primeiros escritores portugueses a viver exclusivamente do
que escrevia, deixando uma vastíssima e diversificada obra.
Não sendo um tipo melancólico, nem caçador de moscas, quase nos 76 anos, vou começar a ler
Camilo Castelo Branco.
Deixando, por
ora, os romances, vou ler esta Boémia do Espírito.
No Preâmbulo,
Camilo explica:
«O livro é que há-de definir o título.
Se o leitor, voltada a página final, não tiver
encontrado a causa que motivou semelhante rótulo, também eu não poderei
esclarecê-lo.»
E termina:
«Se perguntassem a Coubert, a Mery, a Léon Gozlan, a Gautier e aos outros porque eram boémios, e não tabeliães de notas, eles não saberiam responder.»
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