segunda-feira, 10 de março de 2025

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS

Para compor os magros vencimentos do seu trabalho, antes do 25 de Abril,José Saramago traduziu livros. Depois de ser despedido do Diário de Notícias, voltou às traduções. Num repente, entendeu que deveria ser escritor a tempo inteiro e zarpou para uma unidade agrícola no Alentejo ao encontro da família Mau-Tempo. Nasceu Levantado do Chão e o caminhar para o Nobel.

Este é o texto que Saramago colocou na contracapa de 1º edição de Levantado do Chão:

«Um escritor é um homem como os outros: sonha. E o meu sonho foi o de poder dizer deste livro, quando terminasse: "Isto é um livro sobre o Alentejo." Um livro, um simples romance, gentes, conflitos, alguns amores, muitos sacrifícios e grandes fomes, as vitórias e os desastres, a aprendizagem da transformação, e mortes. É portanto um livro que quis aproximar-se da vida, e essa seria a sua mais merecida explicação. Leva como título e nome, para procurar e ser procurado estas palavras sem nenhuma glória- «Levantado do Chão». Do chão sabemos que se levantam as searas e as árvores, levantam-se os animais que correm os campos ou voam por cima deles, levantam-se os homens e as suas esperanças. Também do chão pode levantar-se um livro, como uma espiga de trigo ou uma flor brava. Ou uma ave. Ou uma bandeira. Enfim, cá estou eu outra vez a sonhar. Como os homens a quem me dirijo.»

Há dias, na Frenesi Loja, encontrei a tradução de um livro de Christine Garnier feita por José Saramago.

CHRISTINE GARNIER
trad. de José Saramago
capa de Sebastião Rodrigues

Lisboa, 1957
Publicações Europa-América
1.ª edição
196 mm x 141 mm
288 págs.
exemplar muito estimado; miolo limpo
20,00 eur (IVA e portes incluídos)

A autora, jornalista basto conhecida em Portugal pelo menos desde a publicação, em 1952, do seu livro autocomplacente Férias com Salazar [Parceria António Maria Pereira, Lisboa], surge-nos aqui (traduzida pelo comunista José Saramago, e numa editora da resistência antifascista) a assinar um romance característico da cidade que a guerra dividiu.

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