hei-de lembrar o
timbre de quantas
casas
esse silêncio
electrodoméstico que têm
as divisões quando escurece
o número de
degraus a porta comum
do prédio modelando a escura matemática
dos sigilos
hei-de lembrar a
luz choca
de cada saguão
o tilintar de
copos talheres os gritos
anónimos nas traseiras
a velha
nespereira dos quintais
que perde folha e fruto sobre o telhado
das garagens
o desejo turvo
em que medram as famílias
colonizadas pela televisão
mas hei-de
sobretudo bem-dizer
o exacto momento em que o quadro
eléctrico dispara e extingue o que constitui o serão:
esse brilho plasmado pela narrativa
que entretém
alguma coisa
dentro de nós
se levanta põe de pé toca o agora
(morada mais encoberta)
até alguém
acender o isqueiro dos sentidos
correr a devolver à casa o tangível
Miguel-Manso em Resumo: a poesia em 2013
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