Por causa do crime que Carlos Moedas pretende cometer na cidade – abater jacarandás para construir um parque para automóveis – servindo-nos de REOLHARES, lembramos o que, por jacarandás, se publicou neste Cais a 4 de Junho de 2023:
Tardes de
domingo.
Nos anos de
70/80 António Gedeão dedicava as suas tardes de domingo a percorrer a velha
Lisboa onde nasceu e viveu todo o seu tempo de andar por aqui.
Gostava muito de
fotografar e esse trabalho encontra-se em Memória
de Lisboa.
É comovente ter jacarandás perto do sítio
onde moro.
E hoje, tarde de domingo, fui fotografar os 12
jacarandás que estão na Rotunda das Olaias, perto da Escola António Arroio.
Nos primeiros dias de Maio os jacararandás
começam a florir pela cidade.
Em outros tempos, fotografei (ver etiqueta
jacarandás) os jacarandás do Largo do Rato, da Avenida D. Carlos I. E sempre,
sempre os do Parque Eduardo VII, em tempo de Feira do Livro, numa lembrança
nostálgica para o Jorge Silva Melo:
«Não me tirem a rua dos livros ao sol, não me
fechem a Feira do Livro, deixem-me, uma vez por ano, passear pelo Parque
Eduardo VII de todos os jacarandás, ao cair da noite, pela fresca, deixem-me
encontrar os amigos, são cada vez menos!, deixem-me queixar-me de já não ter
dinheiro, nem espaço em casa para mais papelada, deixem-me voltar a casa com
quilos de sacos, deixem-me a minha Feira do Livro onde ela é, é onde todos os
anos eu respiro um mundo que talvez fosse maior, com mais gente, mais livros,
histórias, poesias, gente a subir e a descer aos sábados à tarde, com tanto
calor. E um dia gostava de filmar, porque não filmar a descoberta do amor entre
um rapaz de uma barraquinha de livros em segunda mão e uma jovem escritora
neurasténica, rapariga loira com as suas singularidades. Ou vice-versa, em
Maio, no Parque Eduardo VII.»
O jacarandá é uma árvore exótica que chegou vinda do Brasil, da Argentina, da Bolívia ou do Paraguai
Pegue-se também no livro A
Linguagem dos Pássaros da
Ana Teresa Pereira:
«Foi num mês de Abril, há muitos anos, éramos
ainda crianças. Estamos de novo em Abril, o mês mais doce, aquele de que Miguel
mais gosta, o mês azul, a nossa casa fica mergulhada em lilases, que escorrem
pelo jardim, sobem as árvores, por vezes chegam ao muro que dá para as rochas.
É também o mês dos jacarandás, os jacarandás ao longo da rua estão cobertos de
flores violetas, que vemos da janela do nosso quarto, da varanda da torre, de
um lado do mar até ao infinito, do outro o mar de flores. E o sim dos pássaros,
desde Fevereiro que acordo a meio da noite com os pássaros, e deixo-me ficar
imóvel, ouvindo-os até adormecer de novo e despertar de manhã, para mais pássaros,
e para ele.»
E não irei
embora sem trazer o Eugénio de Andrade:
«São eles que anunciam o verão.
Não sei doutra glória, doutro
paraíso: à sua entrada os jacarandás
estão em flor, um de cada lado.
E um sorriso, tranquila morada,
à minha espera.
O espaço a toda a roda
multiplica os seus espelhos, abre
varandas para o mar.
É como nos sonhos mais pueris:
posso voar quase rente
às nuvens altas – irmão dos pássaros –,
perder-me no ar.»
Também Maria
João Avilez:
«Sempre tive ânsia de viver, de experimentar as surpresas maravilhosas que a vida encerra, uma grande alegria de viver. Às vezes, a luminosidade de certas tardes em Lisboa, uma árvore em flor, como esses belos jacarandás do Parque Eduardo VII, um quadro, uma pessoa que observo e que, por qualquer razão, me desperta a atenção, bastam-me».
Sem comentários:
Enviar um comentário