As Pupilas Do Senhor Reitor
Júlio Dinis
Livraria Civilização, Porto 1959
José das Dornas era um lavrador abastado, sadio, e de
uma tão feliz disposição de génio, que tudo levava a rir; mas desse rir
natural, sincero, e despreocupado que lhe fazia bem, e não do rir dos
Demócritos de todos os tempos – rir céptico, forçado, desconsolador, que é mil
vezes pior do que o chorar.
Em negócios de lavoura dava, como se costuma dizer,
sota e ás ao mais pintado. Até o Sr. Morais Soares teria que aprender com ele.
Apesar dos seus sessenta anos, desafiava em robustez a actividade de qualquer
rapaz de vinte. Era-lhe familiar o canto matinal do galo, e o amanhecer já não
tinha para ele segredos não revelados. O sol encontrava-o sempre de pé, e em pé
o deixava ao esconder-se.
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