Posso exprimir-me deste modo: escrevi cem poemas para desorientação policial. O meu prestígio estava inscrito nas zonas criminais, mas: é fácil rebentar cabeças a tiro ou estrangular gente com gravatas fulgurantes, segundo a lição hitchcockiana. Embora seja menos provavelmente abusivo cometer dois ou três homicídios do que cometer cem poemas. Com os meus cem poemas, e as dificuldades expostas e supostas deles, consegui apesar de tudo chegar relativamente ileso aos quarenta e dois anos. Além de umas passagens psiquiátricas e psicanalíticas, tive apenas um desastre barroco de automóvel e os sustos da escrita que me evitaram, esses, por opção sinuosa, as passagens penitenciárias.
Herberto
Helder em Photomaton & Vox
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