O Avesso e o Direito Seguido de Discursos da Suécia
Albert Camus
Tradução: Sousa
Victorino
Capa: Bernardo
Marques
Livros do
Brasil, Lisboa, s/d
Pessoalmente não posso viver sem a minha arte. Mas
nunca pus essa arte acima de tudo. Se me é necessária é, pelo contrário, porque
não se afasta de ninguém e me permite viver, tal como sou, ao nível de todos. A
arte não é aos meus olhos um regozijo solitário. É um meio de comover o maior
número de homens, oferecendo-lhe uma imagem privilegiada dos sofrimentos e das
alegrias comuns. Ele obriga por consequência
O artista a não isolar-se; submete-o à verdade mais
humilde e mais universal. E aquele que, muitas vezes, escolheu o seu destino de
artista porque se sentia diferente, bem depressa aprende que não conseguirá
alimentar a sua arte, e a sua diferença, senão confessando a sua semelhança com
todos. O artista forja-se neste incessante ir e vir de si aos outros, a meio caminho
da beleza sem a qual não pode passar e da comunidade a que não pode
arrancar-se. Eis por que os verdadeiros artistas nada desprezam; eles
obrigam-se a compreender em vez de julgar. E, se têm um partido a tomar neste
mundo, não pode deixar de ser o de uma sociedade, em que, segundo a nobre
palavra de Nietzche, já não reinará o juiz, mas o criador, seja ele trabalhador
ou intelectual.
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