Se nos quisermos
agarrar às margens da filosofia, dir-nos-ão que alguém preparar-se para a morte
é a grande finalidade da vida.
Com olhos brandos
de mágoa, Leonard Cohen, reservou para um disco a sua despedida.
You Want It Darker foi gravado, no estúdio caseiro, em circunstâncias de enorme dor
física, segundo seu filho Adam Cohen, mas que, mesmo cheio de dores, uma ou
outra vez, não o impediu de ir para junto das colunas de som, e dançar até ao
fim de tudo.
Se tu és o dealer, eu estou fora do jogo, se tu és o
curandeiro. eu estou arrumado e miserável.
Estou pronto my lord.
Albert Camus
odiava este mundo em que estamos reduzidos a Deus.
A relação
de Cohen com Deus, sempre considerou a religião como seu hobby favorito, será talvez uma
das vertentes mais enigmáticas da sua vida e que resumiu canhestramente:
Qualquer coisa, catolicismo romano, budismo, LSD, sou a
favor de tudo o que funcionar.
Cohen lamentou o
fantasma em que tornou deus.
Sabendo que
entre os dois apenas um era real, não hesitou em concluir que o verdadeiro era
ele: Leonard Norman Cohen.
E arrancou com
uma guitarra, um maço de cigarros, uma garrafa de tinto Pommerey 1934,
que as raparigas, essas, hão-de juntar-se pelo caminho.
Se a ganãncia da
sua agente Kelley Lynch não lhe tivesse roubado cinco milhões de dólares, as
poupanças de uma vida, e o tivesse deixado ás portas da miséria, e, por isso, aos
70 anos, o obrigasse a vir á tona, regressar à estrada e aos discos para refazer
a vida, talvez Cohen se tivesse mantido cercado pelas religiões, as suas constantes
e rebuscadas leituras e interpretações sobre o tal deus.
Ainda que em
meados de Outubro, num encontro com amigos no consulado do Canadá em Los
Angeles, tenha reconhecido que talvez tivesse exagerado no estar pronto
para ir para o outro lado da rua, e entre gargalhadas tivesse dito: pretendo
viver para sempre, sabia-se que o fim não tardava.
Não se vive para
sempre.
Ficam as
canções, que essas sim se estenderão por todas as eternidades.
Quando a Academia
Sueca deu o Nobel da Literatura a Bob Dylan, muitos disseram e escreveram que ,
já que a Academia entendeu dar uma volta à concepção do Prémio como
reconhecimento do valor literário da escrita ligada à música”, Leonard Cohen também ficaria bem na galeria.
Ou melhor?
Leonard Cohen foi
enterrado, numa cerimónia discreta e privada, em Montreal, como era seu desejo.
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