segunda-feira, 21 de novembro de 2016

OS ESCOMBROS DE UM ESCRITOR


Tenho uma secretária bonita, mas prefiro trabalhar na cama, como se estivesse a convalescer num poema de Robert Louis Stevenson. Uma zombie otimista apoiada por almofadas, produzindo páginas de fracos resultados – ainda não amadurecidos ou já amadurecidos demais. De vez em quando escrevo directamente no meu pequeno computador, olhando saudosamente para a prateleira onde está a minha velha máquina de escrever, ainda com a sua velha fita, junto a um processador de texto obsoleto da marca Brother. Uma fidelidade irritante impede-me de os pôr no lixo. Depois há as anotações nos cadernos, os seus conteúdos sempre a apelar a algo em mim – confissões, revelações, inumeráveis variações do mesmo parágrafo – e montes de guardanapos rabiscados com tiradas incompreensíveis. Frascos de tinta secos, pontas de canetas calcificadas, recargas de canetas há muito desaparecidas, lapiseiras sem mina. Os escombros de um escritor.

Patti Smith em M Train

Sem comentários: