A Quarta Invasão Francesa
Alexandre
Pinheiro Torres
Editorial
Caminho, Lisboa, Outubro de 1995
«Deve ser essa a filosofia de de Mabilde.»
«Talvez.»
«Mas a Mabilde acredita em alguma coisa que não seja o
dinheiro?»
«Acredita em coisas que tu nunca sonhaste. Acredita
que o Alentejo será um dia dos alentejanos, cada pedaço de pedra, ou árvore ou rio.
E acredita mais, o que é talvez de rir, que a única maneira de tê-lo é expulsar
os ricos não pela força, mas pelo dinheiro. Vamos comprá-lo. Comprá-lo,
percebes? Comprá-lo aos ricos, palmo a palmo.»
«És uma grande crente. Também partilhas desse sonho?»
«Eu já pertenço aos privilegiados. Herdámos este
monte. O monte dos Patanitas. Uma Grande horta. Talvez à custa dos roubos do
meu avô guarda-fiscal e de meu pai, depois dele.»
«Então o teu pai é guarda-fiscal e não me dizias nada?
Vou-me embora então.»
«Vai com o teu Deus, disse Elvira. «Lembra-te, porém,
que as noites de Verão são mais frescas que as tardes. No Inverno são até mais
frias. Noites em que não há nada que nos aqueça. Espero ver-te em breve. O mais
depressa possível. Um conselho: nunca largues a tua Paravellum, mas não digas a ninguém que a tens contigo.»
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