Num poema de Eduardo
Guerra Carneiro em Algumas Palavras:
Horas vieram certas horas
chegaram com amigos certos
Sei lá agora Sei que partem os amigos
e se vão para longe Não sei deles
Viajam alegres sem dinheiro certo
Outros que não vão morrem na guerra
que nos fere e dói que mais não seja
por ser guerra em vão.
Guerra Colonial.
A imensa
tragédia de uma geração, de um país.
E há guerras que
não acabam nunca.
Ou como escreveu
António Lobo Antunes:
Pode esquecer-se a guerra, mas ela não nos esquece.
Deu cabo da nossa juventude e há-de dar cabo da nossa velhice.
Segundo uma
investigação dos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins, citado pela Lusa,
o número de militares do Exército Português que desertaram entre 1961 e 1973
ultrapassou os oito mil.
Este número, baseado em fontes militares, é um número
que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima
de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre
o pessoal já incorporado e mostra que a deserção é um fenómeno mais complexo do
que que aquilo que se considerava.
Temos dados que indicam que entre 1967 e 1969 cerca de
dois por cento dos jovens que são chamados à inspeção foram refratários. Este
número é certamente superior ao número dos desertores. Os faltosos são aqueles
que nem sequer se apresentam à inspeção. Dados de 1985 do Estado-Maior do
Exército indicam que cerca de 200 mil terão abandonado o país. Na década de
1970, cerca de vinte por cento dos jovens que deveriam fazer a inspeção já não
se encontravam no país, refere Miguel
Cardina.
Segue-se a reprodução
de um artigo de João Paulo Guerra publicado, em Abril de 1999, no Diário
Económico:
De acordo com dados oficiais do Estado-Maior General
das Forças Armadas, morreram nas guerras coloniais de Angola, Guiné e
Moçambique 8.831 militares portugueses – 3.455 em Angola, 3.136 em Moçambique e
2.240 na Guiné. Segundo a mesma fonte, 4.280 militares (48,5%) morreram em
consequência directa de acções de combate e 4.551 (51,5%) em acidentes diversos
nos teatros de operações. Em 1974, já depois do 25 de Abril e até às
assinaturas dos diversos acordos de cessar-fogo, ainda morreram 530 militares
portugueses nas colónias, 159 dos quais em acções de combate.
De acordo com a Resenha Histórico-Militar, publicada
pelo Estado-Maior do Exército, as Forças Armadas sofreram nos três teatros de
guerra 27.919 feridos, 15.452 dos quais em acções de combate (55,3%). A
Associação dos Deficientes das Forças Armadas e o Departamento de Psicoterapia
Comportamental do Hospital Júlio de Matos calculam que entre 30 mil e 100 mil
combatentes ficaram a sofrer de distúrbios pós-traumáticos do stress de
guerra.
Entre 1961 e 74 foram recenseados pelas Forças Armadas
1.140.000 mancebos para prestarem serviço militar, dos quais foram incorporados
e mobilizados para a guerra 820 mil (72%). Portugal manteve, em média, durante
os anos de guerra 55.029 militares em Angola, 31.910 em Moçambique e 20.876 na
Guiné.
Segundo dados oficiais, os faltosos e refractários
atingiram em cada ano 18% do contingente, em média, constituindo a emigração o
principal destino de tais jovens. As estatísticas oficiais referem que o número
de desertores dos três teatros de guerra foi de 181 – 101 de Angola, 59 da
Guiné e 21 de Moçambique.
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