terça-feira, 22 de novembro de 2016

ADEUS ATÉ AO MEU REGRESSO


Num poema de Eduardo Guerra Carneiro em Algumas Palavras:

Horas vieram certas horas
chegaram com amigos certos
Sei lá agora Sei que partem os amigos
e se vão para longe Não sei deles
Viajam alegres sem dinheiro certo
Outros que não vão morrem na guerra
que nos fere e dói que mais não seja
por ser guerra em vão.

Guerra Colonial.

A imensa tragédia de uma geração, de um país.

E há guerras que não acabam nunca.

Ou como escreveu António Lobo Antunes:

Pode esquecer-se a guerra, mas ela não nos esquece. Deu cabo da nossa juventude e há-de dar cabo da nossa velhice.

Segundo uma investigação dos historiadores Miguel Cardina e Susana Martins, citado pela Lusa, o número de militares do Exército Português que desertaram entre 1961 e 1973 ultrapassou os oito mil.

Este número, baseado em fontes militares, é um número que peca por defeito e refere-se ao período entre 1961 e 1973. É bastante acima de oito mil e é um número importante porque, até agora, não tínhamos dados sobre o pessoal já incorporado e mostra que a deserção é um fenómeno mais complexo do que que aquilo que se considerava.
Temos dados que indicam que entre 1967 e 1969 cerca de dois por cento dos jovens que são chamados à inspeção foram refratários. Este número é certamente superior ao número dos desertores. Os faltosos são aqueles que nem sequer se apresentam à inspeção. Dados de 1985 do Estado-Maior do Exército indicam que cerca de 200 mil terão abandonado o país. Na década de 1970, cerca de vinte por cento dos jovens que deveriam fazer a inspeção já não se encontravam no país, refere Miguel Cardina.

Segue-se a reprodução de um artigo de João Paulo Guerra publicado, em Abril de 1999, no Diário Económico:

De acordo com dados oficiais do Estado-Maior General das Forças Armadas, morreram nas guerras coloniais de Angola, Guiné e Moçambique 8.831 militares portugueses – 3.455 em Angola, 3.136 em Moçambique e 2.240 na Guiné. Segundo a mesma fonte, 4.280 militares (48,5%) morreram em consequência directa de acções de combate e 4.551 (51,5%) em acidentes diversos nos teatros de operações. Em 1974, já depois do 25 de Abril e até às assinaturas dos diversos acordos de cessar-fogo, ainda morreram 530 militares portugueses nas colónias, 159 dos quais em acções de combate.
De acordo com a Resenha Histórico-Militar, publicada pelo Estado-Maior do Exército, as Forças Armadas sofreram nos três teatros de guerra 27.919 feridos, 15.452 dos quais em acções de combate (55,3%).  A Associação dos Deficientes das Forças Armadas e o Departamento de Psicoterapia Comportamental do Hospital Júlio de Matos calculam que entre 30 mil e 100 mil combatentes ficaram a sofrer de distúrbios pós-traumáticos do stress de guerra. 
Entre 1961 e 74 foram recenseados pelas Forças Armadas 1.140.000 mancebos para prestarem serviço militar, dos quais foram incorporados e mobilizados para a guerra 820 mil (72%). Portugal manteve, em média, durante os anos de guerra 55.029 militares em Angola, 31.910 em Moçambique e 20.876 na Guiné. 
Segundo dados oficiais, os faltosos e refractários atingiram em cada ano 18% do contingente, em média, constituindo a emigração o principal destino de tais jovens. As estatísticas oficiais referem que o número de desertores dos três teatros de guerra foi de 181 – 101 de Angola, 59 da Guiné e 21 de Moçambique. 

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