Logo ao lado, na divisão contígua, uma grande portada
abria-se sobre a famosa varanda, recinto estreito e comprido, concebido para o
repouso dos adultos, para todas as aventuras de uma infância na cidade,
observatório de todos os possíveis rastos da vida, ponto de convívio
obrigatório nas noites estreladas do verão. Nessa época, durante o dia, nas
alturas de sossego e também em noites muito quentes, quase todas as janelas e
varandas de Lisboa estavam ocupadas: eram as pessoas que aí se visitavam e conversavam,
coscuvilhavam, mal diziam e bem diziam. Era um hábito muito interessante e
extraordinário convivial que Rómulo de Carvalho lembra, cheio de nostalgia, ao
longo da vida.
Cristina
Carvalho em Rómulo de Carvalho/ António Gedeão Príncipe Perfeito
Era uma característica do tempo, do meu tempo, hoje
totalmente ultrapassada. Chego à janela, nos dias que decorrem, e verifico que
todas as janelas estão fechadas, dia e noite, a não ser quando se abrem, da
parte da manhã para arejar os quartos, mas sem ninguém à vista. À noite é o encerramento
total. Que tereia acontecido? Que prenderá as pessoas, dentro de suas casas,
invisíveis do exterior, como se o governo tivesse declarado o estado de sítio?
Rómulo de
Carvalho em Memórias
Legenda:
pormenor de fotografia de Rómulo de Carvalho em Memória de Lisboa
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