Lendo por aí, sugere-se que os que se interessam pelas
presidenciais americanas julgam ir votar amanhã a Des Moines, Iowa. Respondo
por mim: sei que não vou lá estar. Mas sei, e é isso que me traz atazanado, que
outros o farão por mim. É que, nesse país, os bancos, em 2008, emprestaram a
desempregados para comprar vivendas com jacuzzi, causando um bater de asas de
borboleta que levou, até hoje, a um tsunami onde moro (Benfica, a 6890 km de
Des Moines, se a borboleta vier a direito). É que esse país ocupou o Iraque,
acabou-lhe com a polícia e o exército (até um taxista da Amareleja diria
"humm, vai dar merda...") e por isso tenho - sou europeu - tantos
refugiados nas praias. E é o país que, durante a crise da democracia na Europa,
venceu a Depressão sem beliscar a liberdade. É o dos filmes de Frank Capra de
louvor aos homens e o dos inventores sem os quais já não posso passar. É o país
onde, em 2004, ouvi um debate Bush-Kerry sobre células estaminais que entendi.
Se calhar eles falaram do que lhes escreveram para falar - mas fizeram o
esforço para os seus eleitores. E esse esforço é um tributo à democracia. Em
2016, Donald Trump foi ignorante ou carroceiro, reduziu a política externa a
dólares, mentiu como os políticos mas sem o esconder, prometeu violações à Constituição
e humilhou o que lhe deu na gana. É pela força desse país que são minhas estas
eleições: a ganhar, não seria só a América que Trump degradava.
Ferreira
Fernandes no Diário de Notícias
Legenda: imagem
Shorpy
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