Uivo (e outros poemas)
Allen Ginsberg
Selecção e
tradução: José Palla e Carmo
Capa: Fernando
Felgueiras
Colecção
Cadernos de Poesia nº 26
Publicações Dom Quixote, Lisboa, Junho de 1973
Obedecendo a ordens para matarmos os espiões,
descarreguei a pistola na sua boca.
Descaíu, com a cara para baixo, da posição de vivo,
e deixei-o ali morto e ajoelhado.
Não, eu não fiz isso. Imaginei a cena, na neve dum
aeroporto, quando o avião de Albany des-
carregava passageiros.
Sim, fê-lo o rapaz com cara de Mexicano, de deza-
nove anos, com farda de fuzileiro naval,
que vinha sentado ao meu lado,
e que ia sair em Salt Lake City, a acompanhar
o cadáver do irmão que
trouxera do
Vietnam.
«O vietnamita estava ajoelhado à minha frente,
a chorar e a pedir piedade. Eram dois:
este trazia um cartão que havíamos lan-
çado sobre eles.»
O cartão prometia imunidade aos
vietcongues que se rendessem.
«Para justar as contas da morte do meu irmão
E do meu melhor amigo, abati os dois.»
Sim, isto foi verdade,
Fevereiro, 1969
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