Poucas coisas –
provavelmente nenhumas – gosto de dar como definitivas.
Então em matéria
de livros, estamos conversados.
Só leio o que
entendo ler e tenho por ideia de que quando os livros não me agradam a culpa é
apenas minha.
Reli agora As Naus de António lobo Antunes.
Quando o li, em
Abril de 1988, fiquei com uma péssima impressão.
È o sétimo livro
de Lobo Antunes e os dois anteriores, Fado Alexandrino e Auto dos Danados,
já não me tinham causado entusiasmo.
A releitura de As Naus não me levou a mudar de ideia.
Piorou, mesmo.
Naquelas muitas
entrevistas que os autores dão, quando sai romance novo, Lobo Antunes pretendia que o livro era uma tentativa de dar, sob forma onírica,
o retrato deste país, em que o passado e o presente se misturam .
A História de Portugal contada através do regresso das caravelas que
trazem de volta os portugueses como os retornados do 25 de Abril.
É o melhor livro que escrevi, tanto do ponto de vista técnico como
formal.
Juntar o regresso dos
retornados das colónias com a dos navegadores do Infante poderá ser uma boa
ideia mas, sempre opinião pessoal, faltaram unhas para a guitarra, e o
resultado, nada conseguido, cifra-se numa destemperada confusão.
Um exemplo: voltei a
não compreender como é que um homem de
nome Luís a quem faltava a vista esquerda, que permaneceu no Cais de Alcântara
três ou quatro semanas pelo menos, sentado em cima do caixão do pai, à espera
que o resto da bagagem aportasse no navio seguinte, e como a bagagem não
chegou, passeia-se, com o cadáver do pai pela zona ribeirinha à espera de se
desfazer do caixão, até que na Estação de Santa Apolónia um outro homem, este
chamado Garcia da Horta, cultor de ervas aromáticas e carnívoras, lhe compra o
caixão e o converte para adubo das plantas.
Por vezes salta um
sorriso, amarelo, mas o livro é uma desilusão.
Desde Exortação
aos Crocodilos que não voltei a concluir a leitura dos livros de António
Lobo Antunes.
Outros estão por
aí e ainda nem sequer os abri.
Talvez o não
gostar de coisas definitivas me leve, um destes dias, a pegar neles, a miragem
do encontrar uma surpresa.
Talvez…
Mas continuo a
gostar do António Lobo Antunes cronista.
Aguardo, agora, a chegada do Sexto Livro de Crónicas.
Talvez chegue
pelo Natal.
Seria bem
agradável.
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