Eu, que me
comovo por tudo e por nada, assim fiquei ao sair da Exposição que assinala o
centenário do nascimento do professor, pedagogo, cientista, Rómulo de Carvalho,
do poeta António Gedeão, que está patente na Biblioteca Nacional, de 12 de
Outubro de 2006 até 6 de Janeiro de 2007.
Chama-se a
exposição António é o meu nome, e mostra parte do espólio do autor,
doado pela família.
Do que se vê,
ressalta a ideia de um homem extremamente organizado e rigoroso, gostando das
mais ínfimas coisas, coleccionando tudo o que lhe chamava a atenção e que,
por isto ou aquilo, entendia guardar.
Fazia álbuns de
fotografias das viagens e levava para casa as mais improváveis coisas, como a
pena de um pombo encontrada em Trafalgar Square.
Coleccionava
bilhetes de transporte, de museus, de espectáculos, postais e outras coisas que
os humanos consideram inúteis ou absurdas.
No espólio
encontra-se uma carta do compositor Alain Oulman a solicitar-lhe autorização
para musicar o poema Calçada de Carriche e, ao mesmo tempo, dando a
conhecer que fizera alguns cortes, mas que não adulteravam o sentido do poema.
Outra das suas predilecções
era álbuns com fotos da família que ele próprio organizava e encadernava com
tecidos floridos.
Adorava dar
aulas e, se não tivesse sido professor, gostava de ter sido marceneiro.
Foi ele que construiu toda a mobília que se encontrava no seu escritório, desde a secretária às estantes.
Foi ele que construiu toda a mobília que se encontrava no seu escritório, desde a secretária às estantes.
Um pouco como o
meu pai. Todo o mobiliário do escritório/biblioteca da casa onde nasci, foi ele
que concebeu. Desde uma escrivaninha às estantes e uma mesa para o meio da sala onde se bebia café e demais bebidas.
Parte dessas
estantes vieram aqui para casa. Por impossibilidade de espaço não pude trazer
todas e isso deixou-me algum desgosto porque, nos tempos livres do meu pai, as
vi nascer. Eram parte da minha vida.
Os cadernos em
que Gedeão escreveu a sua variada obra, numa letra desenhada e miudinha,
lembram os cadernos onde o meu avô escreveu as traduções que fez dos livros de
Anatole France.
Olha-se toda a
exposição, e ressalta a figura que Rómulo de Carvalho/António Gedeão foi: um
estupendíssimo professor, um belíssimo poeta, um príncipe do Humanismo.
É muito
importante que, para além da obra, se olhem exposições como esta. Ficamos com uma
ideia mais abrangente dos autores que amamos.
Devia ser tarefa
obrigatória dos governos.
(17 de Novembro
de 2006)
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