sábado, 19 de novembro de 2016

COISAS EXTINTAS OU EM VIAS DE...


O Diário de Notícias continua a publicar-se, mas abandona o lindíssimo edifício no cimo da Avenida da Liberdade, traço de Pardal Monteiro.

O jornal muda-se para uma das Torres de Lisboa, junto à 2ª Circular.

O edifício será destinado a habitação e serviços e manterá a fachada.


Este edifício é uma imagem que guardo desde miúdo quando com o meu avô íamos, nos domingos-sem-Benfica, passear para o Parque Eduardo VII.

As vezes que fui à loja do rés-do-chão, comprar números atrasados, por causa de algum artigo publicado no suplemento literário.

O meu avô, republicano histórico, benfiquista e anti-clerical, nunca leu o Diário de Notícias, o jornal das sopeiras, como então, por causa dos anúncios de oferta e procura de emprego, se dizia.

Lia O Século e o República.

Segui passos idênticos e, por uma só vez, o Diário de Notícias foi o meu jornal: de 9  de Abril a 25 de Novembro de 1975,  sub-directoria de José Saramago:

A história do Diário de Notícias é uma das histórias mais mal contadas deste país. E eu vou conta-la, tentendo que, finalmente, passe a ser bem contada. Mas sem grande esperança disso. Estamos em 75, sou director adjunto, Luís de barros está de férias, sou eu quem conduz o jornal. (Há que dizer que até essa altura alguns jornalistas tinham sido despedidos. Curiosamente sem nunca o director-adjunto ter tido qualquer intervenção nesse aspecto.) Uma tarde entram-me pelo gabinete três ou quatro jornalistas (não me lembro quem)). Traziam um papel assinado por trinta jornalistas (e não só jornalistas), no qual se discordava da orientação do jornal. Para denúncia e protesto, exigia-se a publicação desse papel na edição do dia seguinte. Li, disse que não estava de acordo, nem me parecia que tivessem razão (“vivemos no tempo que vivemos, o jornal tem esta linha, está ao lado da Revolução”). Acrescentei: “Não vou dizer que isso não se publica, lembro-vos só de que nesta casa há uma entidade que está acima da direcção e de certo modo também acima da administração e que se chama Conselho Geral de Trabalhadores (era o tempo em que estas coisas existiam). Vou, portanto chamar os responsáveis do CGT para que o Conselho reúna hoje e se acharem que isto deve ser publicado, será publicado”. Foram-se embora, chamei os responsáveis do CGT, contei-lhes o que se passava e pedi-lhes que convocassem toda a gente para a meia-noite. A essa hora chamam-me, lá a cima, já estava toda a gente, eu vou, levo o papel, lei-o, dou a minha opinião (o que era normal), e desço para o meu gabinete à espera das conclusões do debate. Em que não participei. Quando aquilo terminou, os mesmos responsáveis do CGT vêm-me comunicar que se tinha decidido suspender os não já trinta (porque tinham passado a ser 23) e recomendado à administração que lhes instaurasse processos disciplinares. Este foi o crime praticado pelo director-adjunto do Diário de Notícias, José Saramago.

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