O Dia de Ação de Graças apanha-me num período
prolongado de solidão, onde se inscreve por vezes uma inquietação que arrasto
ao longo de dezembro, mas, infelizmente, sem efeitos práticos. De manhã dou de
comer aos gatos, pego nas minhas coisas em silêncio e depois ponho-me a caminho
da Sexta Avenida até ao Café’Ino, sentando-me na mesa do canto habitual, a
beber café, a fingir escrever, ou a escrever mesmo a sério, com mais ou menos
os mesmos resultados discutíveis. Evito compromissos sociais e, com
determinação, faço planos para passar as férias sozinha. Na véspera de Natal
ofereço aos gatos uns bonecos com a forma de ratos, cheios de erva-gateira, e
saio sem destino para a liberdade da noite, acabado por chegar a um cinema
perto do Hotel Chelsea, onde passava o filme Millenium 1: Os Homens Que Odeiam as Mulheres, em sessão tardia.
Compro o bilhete, tomo um café duplo e peço um pacote de pipocas biológicas
numa pastelaria da esquina, e sento-me depois no cinema numa das filas de trás.
Apenas eu e um grupo de ociosos, confortavelmente isolados do mundo, saboreando
o nosso próprio conceito de bem-estar num feriado, sem prendas, sem Menino
Jesus, sem fitas prateadas ou azevinho, apenas a sensação de uma completa
liberdade. Gostei do filme. Já tinha visto a versão sueca sem legendas, mas
ainda não tinha lido os livros, por isso agora conseguia perceber o enredo e
perder-me na paisagem sombria da Suécia.
Já passava da meia-noite quando voltei para casa.
Já passava da meia-noite quando voltei para casa.
Patti Smith em M Train
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