Fidel, um grande homem. Acabou como ditador e é
preciso dizer que começou por acabar com um ditador, Fulgencio Batista. Com
qualidade rara, a coragem, cortou com a sua própria situação de privilegiado e
arriscou a liberdade e a vida. Aqueles que amocharam em situações semelhantes -
e em Portugal ainda há gerações em que a escolha foi posta - deveriam não se
esquecer de que houve um Fidel que fez o que eles deveriam ter feito e não
fizeram. Que os tíbios reconheçam: "Honra aos que souberam dizer não quando
o não era necessário e nós não estivemos à altura de o dizer." E depois
podiam, com mais mérito, criticar o Fidel liberticida. Acresce ainda que para
lutar contra a ditadura Fidel não pôde contar com o exemplo da admirável
América: ela era madrinha de Batista e madrasta de Cuba. Longe de Deus, não
sei, mas tão próximo dos Estados Unidos - naqueles tempos, pelo menos - era
mais difícil ser democrata. Poder tomado, Fidel tirou partido do seu jeito para
o simbólico: caqui, charuto, barbas... Ora, os ícones - que se mostram muito,
por definição - têm de função mais própria escamotear. Esse Fidel das
fotografias romantizou o que foi; e ajudou a enganar sobre o que aí vinha. Os
factos acabaram por ser: o ditador Fidel assassinou muitos e a todos os seus
compatriotas tirou a liberdade. Ao combatente de grande causa, honra. Ao
tirano, vergonha. E a todos nós, uma lição de história.
Ferreira
Fernandes no Diário de Notícias
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