A rádio está
associada à minha vida.
Quando havia
programas de autor e a ditadura das «play-list» não tinha entrado portas
adentro.
Nos primeiros
meses de 1980, joâo David Nunes ainda podia dizer:
Acho que alguma da
Rádio que já se vai fazendo, neste momento, em Portugal, não nos deixa muito
envergonhados em relação à Rádio que se faz lá fora.
Há dias, morreu Jaime Fernandes, um dos homens dessa rádio de autor.
Numa entrevista
ao Jornal de Notícias, Janeiro de 2011, José Duarte falava de um dos
seus programas de assinalável êxito na rádio: A Menina Dança?
Fui convidado por Jaime Fernandes. Trabalhávamos na Rádio Comercial. Tinha eu escrito um texto para "O Jornal" sobre Irving Berlin, grande compositor norte-americano". Jaime Fernandes gostou e ficou admirado de meu saber sobre aquela música. Convidou-me para fazer um programa sobre "standards". Inventei então "a menina dança?" que é um programa semanal dedicado a grandes nomes vocais da música norte-americana e a grandes compositores do "American Song Book".
O texto que se
segue julgo pertencer a uma qualquer crítica ou sinopse do programa:
Tudo acontece num salão de uma sociedade recreativa. É
um baile ao som de canções. Como as canções devem ser: cheias de «swing», a
puxar o pé para a dança. Ouvem-se os «crooners» ou - Bing Crosby, Dean Martin, Tony Bennett – uns
mais apaixonados, outros menos, ouvem-se outras vozes que fizeram as músicas da
América. Ouve-se Sinatra e as suas histórias. Aos domingos à noite, quando a
Menina encontra o seu par, são as grandes orquestras que se vocam, num qualquer
baile de despedida; e são as histórias à margem do tempo que se relatam. O
programa realizado por José Duarte podia ser o cenário para os «Dias da Rádio»
de Woody Allen. Mas não é. No que diz respeito a rádio, vai mais longe.
«A Menina Dança» oferece um dos mais eficazes
exercícios do uso da linguagem radiofónica: diálogos a uma voz definem
cenários; afastam e atraem. Informam. E fzem com que a menina, de facto,
exista. Ela é a personagem que ganha forma, a cada instante. Do desconhecimento
da música passa ao espanto; e deste, ao saborear da descoberta. Mas isso não
lhe basta: a Menina «trova s voltas», comanda o jogo e, às vezes, transforma num
inferno a vida do seu par: a Menina torce um pé, a Menina pinta o cabelo de
louro. A Menina é a Gata Borralheira que parte à meia-noite, abandonando o seu
par.
A menina, mais
as suas danças, deixaram-nos a 30 de Dezembro de 2012.
Não vivíamos
para ouvir rádio. Somente para melhorar essa vida.
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