Ilha do Desterro
Alexandre Pinheiro Torres
Capa: João da Câmara Leme
Colecção Poetas de Hoje nº 29
Portugália Editora, Lisboa, Outubro de 1968
Venho olhar a tua quinta
que é esta longa
seara
de pedra. E vejo
ainda
desarmada a mão
avara
que vai disparar a
bala
rente ao ouvido da
Manhã.
A luz da aurora é a
fala
duma língua temporã
que primeiro nada
lavra
e é uma charrua de
tábua,
mas quando se faz
palavra
é um pomar a tua
água.
Chego-me para olhar
a quinta
como se olhá-la
adubasse
essa terra tão
faminta
da clareza da
sintaxe.
Vê agora a tua mesa
se é que a luz
ainda por vir
te deixa ver a
portuguesa
maneira de a
servir.
O que nela se nos
dá
sobra a ausência da
toalha
é a pedra que aqui
há
como única
virtualha.
E a mão deflagra o
gatilho
secreto do
amanhecer.
As palavras são o
rastilho
do lume que vai
nascer.
Toando ao ouvido
que ensurdece
o urgentíssimo
arcabuz
que da noite lenta
tece
uma bengala de luz.
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