sábado, 14 de outubro de 2017

OLHAR AS CAPAS


Café 25 de Abril

Álvaro Guerra
Capa: João Segurado
Edições O Jornal, Lisboa Abril de 1987

- Ai querem?! Pois se pagarem faço-lhes a vontade.
Assim reagira o galego António maria às pressões da clientela nova e já maioritária, submergindo as tradições do Café e da Vila. Pretendiam eles mudar o nome do estabelecimento. De facto, ele já ostentara a tabuleta de Café República, antes de O estado novo lhe ter carregado o nome de suspeitas e obrigado o pai do António Maria a encomendar ao saudoso Praga de Mãe, pintor de artes e de paredes, o dístico. Já desbotado pela erosão de muito sol e chuva, de Café Central, ornado de motivos «arte nova», tão fora do tempo.
- Mais nome, menos nome…
E o António disfarçava com um encolher de ombros a irritação que todas as novidades lhe causavam.
No dia em que o Café foi baptizado pela terceira vez e a velha tabuleta substituída por outra de fundo verde, cravos vermelhos em grinalda a envolver as letras amarelas que formavam o novo nome – Café 25 de Abril – a clientela que se cotizara para subsidiar mais aquela mudança passou o serão a pagar rodadas de bagaço e brandy, perante a complacência e pouco entusiasmo do galego que nem nessa noite cessou de se queixar do estado do negócio e de ameaçar com a partida, sempre adiada, para o Norte chuvosos dos seus antepassados.

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