Café 25 de Abril
Álvaro Guerra
Capa: João Segurado
Edições O Jornal, Lisboa Abril de 1987
- Ai querem?! Pois
se pagarem faço-lhes a vontade.
Assim reagira o
galego António maria às pressões da clientela nova e já maioritária,
submergindo as tradições do Café e da Vila. Pretendiam eles mudar o nome do
estabelecimento. De facto, ele já ostentara a tabuleta de Café República, antes
de O estado novo lhe ter carregado o nome de suspeitas e obrigado o pai do
António Maria a encomendar ao saudoso Praga de Mãe, pintor de artes e de
paredes, o dístico. Já desbotado pela erosão de muito sol e chuva, de Café
Central, ornado de motivos «arte nova», tão fora do tempo.
- Mais nome, menos
nome…
E o António
disfarçava com um encolher de ombros a irritação que todas as novidades lhe
causavam.
No dia em que o
Café foi baptizado pela terceira vez e a velha tabuleta substituída por outra
de fundo verde, cravos vermelhos em grinalda a envolver as letras amarelas que
formavam o novo nome – Café 25 de Abril – a clientela que se cotizara para
subsidiar mais aquela mudança passou o serão a pagar rodadas de bagaço e
brandy, perante a complacência e pouco entusiasmo do galego que nem nessa noite
cessou de se queixar do estado do negócio e de ameaçar com a partida, sempre
adiada, para o Norte chuvosos dos seus antepassados.
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