Carta de Paris,
s/d, escrita de Paris, para Jorge de Sena.
Em Março de 1962
Sophia, juntamente com outros escritores portugueses, Alexandre O’ Neill,
Agustina Bessa Luís, Urbano Tavares Rodrigues, Natália Correia, José Cardoso
Pires, António Pedro, Ilse Losa, esteve em Florença a assistir ao Congresso da
COMES (Comunidade Europeia de Escritores).
Sophia diz a
Sena que pensava ir assistir a um congresso literário mas foi mais político que
literário.
O Congresso ara anti-fascista – coisa com que concordo
mas os métodos usados foram fascistas, mal educados e policiais. Que haverá por
trás disto tudo..Todo o ambiente do Congresso foi de nervosismo e de
desconfiança e eu sem o Francisco ao meu lado e sem mesmo ter combinado com ele
qual a linha a seguir senti-me verdadeiramente só num mundo de intrigas que não
é o meu. Muita falta me fez ali a sua presença.
Criaram à volta da Agustina um clima de suspeita e
inquisição. E isso foi-me dito por uma pessoa direita e de carácter:
Disseram-me que eu a devia abandonar pois o facto de eu andar com ela me
comprometia. Como você sabe eu não sou capaz de abandonar nenhuma pessoa que
está só e que é injustamente acusada e perseguida na sua liberdade.
(…)
Estive com o Murillo Mendes com quem conversei mas não
tão longamente como seria necessário, ele nervosíssimo, eu exausta. E sendo as
minhas ideias sobre política tão próximas das do Murillo creio que el não
entendeu porque razão eu acompanhei humanamente a Agustina. Aliás o clima que
se respira na Europa é de violência, desequilíbrio, paixão, falta de
serenidade. Penso que vão acontecer as coisas mais graves mas esta atmosfera de
desconfiança é já de si gravíssima. Nada está esclarecido e o esclarecimento parece
impossível. Faltou-me gravemente não ter aqui o Francisco. A nossa vida é cada
vez mais engagée na luta que
você sabe mas a oposição está cheia de aventureiros que sujam e confundem tudo.
Está também cheia de tontos.
Há muito que não recebo notícias suas. Passaram por
Lisboa uns brasileiros que vinham da sua parte mas não tiveram tempo para falar
connosco.
Peço-lhe a maior prudência quando me escrever.
Legenda: imagem
obtida em PretoBranco
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