segunda-feira, 9 de outubro de 2017

AS PALAVRAS SÃO UM CHEQUE SEM COBERTURA


A mãe pôs-se de pé e cruzou diante do peito as palmas das mãos, horizontais como as lâminas de uma guilhotina.
- Filhinha, não me conte mais nada. Estamos perante um caso muito perigosos. Todos os homens que primeiro tocam com a palavra, depois chegam mais longe com as mãos.
- Que mal têm as palavras! – disse Beatriz abraçando-se à almofada.
- Não há pior droga que o blá-blá. Faz uma taberneira de aldeia sentir-se como uma princesa veneziana. E depois, quando chega a hora da verdade, o regresso à realidade, repara que as palavras são um cheque sem cobertura. Prefiro mil vezes que um bêbedo te apalpe o cu no bar, a que te digam que um sorriso teu voa mais alto que uma mariposa!

Antonio Skármeta em OCarteiro de Pablo Neruda

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