Van Morrison está a festejar 50 anos de carreira a solo e publicou o seu 37º álbum de estúdio – Roll with the Punches.
Claro que Van
Morrison não anda pelas listas dos discos mais vendidos, o próprio gosta muito pouco dos discos que faz, mas tem lugar de
referência maior na música.
João Gobern, no
Diário de Notícias, lembra a efeméride e acrescenta:
«Quando, há
cinco anos, a insuspeita Rolling Stone procedeu a (mais) uma escolha dos 500
melhores álbuns de sempre, lá estavam, indiferentes às modas e à volatilidade
destas eleições, dois discos do Big Van: Moondance(de 1970) em 66.º
e Astral Weeks (de 1968, tão perto já do meio século) em 19.º.
Nada mau, para um registo que, comercialmente, nunca foi além do 55.º lugar do
top britânico...
Em boa verdade,
qualquer destes álbuns e da esmagadora maioria dos outros, que perfazem o
património de Van Morrison, pode continuar a ser ouvido hoje, com o mesmo
prazer e sem enfrentar os riscos do final do prazo de validade. Por uma razão elementar:
a escolha das canções, bem acompanhada pela escrita do próprio intérprete,
continua a ser inspirada, apoiando-se na consistência do saber do protagonista,
que conhece todos os standards, todos os nomes suscetíveis de
poderem interessar-lhe. Depois, é aquele "pequeno passo" de génio,
que se traduz em moldar cada momento a um fraseado próprio, a uma rítmica que
transcende lógicas, a um tom de voz que se reconhece à segunda ou à terceira
nota. Nestes particulares, faz lembrar Frank Sinatra, nada menos.
Roll with the Punches, para chegarmos ao que aqui nos traz, nada tem de novo - de resto, as
últimas vezes que Van Morrison correu atrás da surpresa aconteceram em Irish
Heartbeat, disco de 1988 gravado com os seus compatriotas (do lado sul da
ilha verde) Chieftains, em que fez emergir despudoradamente as suas raízes
celtas, e quando integrou o elenco especial da apresentação de The Wall (Pink
Floyd) junto ao que restava do Muro de Berlim, redefinindo à força de voz uma
canção tão contundente como Comfortaby Numb.
Aliás, é melhor
que não haja sobressaltos - com Van Morrison, cada "prova cega"
torna-se uma festa. E, neste disco, há, além dos temas próprios, canções de Bo
Diddley, Doc Pomus, T-Bone Walker, Mose Allison, Sister Rosetta Sharpe e -
bênção suprema - até de Sam Cooke e Count Basie. Além disso, por aqui se
descobrem a guitarra de Jeff Beck, o Hammond de Georgie Fame, a harmónica de
Paul Jones e o piano de Jason Rebello. O que significa que, estejam em
causa Mean Old World ou How Far from God,
Transformation ou Ordinary People (duas das três
novas), e, sobretudo, Goin' To Chicago ou Bring It On
Home To Me, a melhor solução passará sempre por deixar a música
fazer o seu caminho, ligando-a ao passado ilustre de Van Morrison ou
descobrindo um dos valores mais insistentes e coerentes da história do rock.
Sem pressa - o feitiço vai obrigar a voltar aqui, uma e outra vez.
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