28 de Outubro de
1935
A poesia começa quando um idiota diz a respeito do
mar: «Parece azeite». Não é, de facto, uma descrição exacta de um mar bonançoso, mas o prazer de ter descoberto a
semelhança, a exactidão de um liame misterioso, a necessidade de se gritar aos
quatro ventos que de tal nos apercebemos.
No entanto, é igualmente idiota determo-nos aqui.
Começada assim a poesia, é preciso terminá-la e compor uma narrativa rica de
nexos e que equivalha a um juízo de valor.
Esta seria a poesia-tipo, a ideia. Mas, habitualmente,
as obras são feitas de sentimentos – a exacta descrição da bonança – que, de
vez em quando, espumejam em descobertas de relações. Pode ser que a poesia-tipo
seja irreal e que – tal como nós vivemos também de micróbios – o que até agora
foi feito seja constituído por simples pedaços miméticos (sentimento), por
pensamentos (lógica) e por nexos mal esboçados (poesia). Uma combinação mais
absoluta seria talvez irrespirável e idiota.
Cesare Pavese em Ofício de Viver
Legenda: pintura
de Joaquin Sorolla
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